12.10.08

A tática de dormir no metrô e a vergonha alheia

Tem gente que dorme no Metrô. Em pé ou sentado, eu sou uma dessas pessoas. A prática foi adquirida com muitos anos de experiência. Durmo pouco, cerca de 4 horas por dia. Tenho um sono agitado. Sonho com dinossauros me perseguindo, mas eles nunca me comem. Acordo assustado, frustrado. É um caos.

Mas no Metrô não. É um sono suave, embalado pelo leve balançar da composição. Com o aperto, da estação Brás, me sinto acolhido. O calor humano chega a ser aconchegante. Quando estou sentado, apóio a cabeça no vidro se estiver com muito sono. Se o cansaço for pouco, procuro manter a concentração e segurar, fazendo força no pescoço pra não cair no ombro ou no colo de alguém. Já fiz amizades importantes pedindo desculpas por ‘pescadas involuntárias’.

Em pé é um pouco mais difícil. Segure com força no ferro apoiado no teto, encoste a testa nos braços e descanse. Deixe o sono REM (R.E.M. ajuda a dormir também) te tomar até ouvir “desembarque pelo lado esquerdo do trem”. Caso algum solavanco mais brusco te faça perder o equilíbrio, finja que tropeçou. Funciona. Jamais deixe perceberem seu sono. Quando o vagão está cheio é impossível cair. Evite tirar seu pé do chão. Você pode não conseguir colocá-lo de volta, tipo, nunca mais.

Dia desses, o destino me pegou. Estava eu sentado no banco, dormindo, a caminho da estação Alto do Ipiranga da Linha Verde. Lá é tranqüilo, mas eu estava em um sono agitado. Via pessoas entrarem e saírem do vagão sem parar e era como se o trem seguisse a ritmo de trem-bala. Mas, toda vez que abria os olhos, observava o vazio e o silêncio. Melhor dormir.

E fui assim até a estação Paraíso. Eis que sou acordado um leve tocar de dedos no meu ombro. Eu estava suado, suado, suado. E eu não suo nem que fique em uma academia por 2 horas (não é empírico, jamais passo de 30 minutos). Perturbado pelo meu estado, observo que metade do vagão olha em minha direção, esboçando risos (não sorrisos) e atenção.

“Calma, calma, está tudo bem“, me diz o rapaz, ainda com a mão em meu ombro. Pergunto o que aconteceu e ele me diz: “Você estava agitando, mexendo o corpo no banco, com os braços cruzados e batendo o pé, dizendo ‘Não, não, não, agora não. Nãaaaaaao….agora naaaaao! Não quero‘”.

Coberto de gargalhadas alheias, eu agradeço, pego minhas coisas e desembargo do lado esquerdo do trem. Moral da história: cuidado ao dormir no Metrô com frequência. Você pode começar a se sentir em casa. Agradeço a Deus por não ter sido um wet dream…ou será que foi? E você, já dormiu onde não devia?

Felipe Luno, no PinkEgoBox.

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