Essa história aconteceu na Thompson Rio, em eras passadíssimas, verdadeiros outros tempos, já devidamente encobertos pela página do passado. Maravilha de introdução! Isso sim que é começo de crônica! Hoje estou com a macaca. Prossigo no mesmo estilo e com a mesma inspiração. Tempos outros, como eu já disse. Nem melhores nem piores, apenas outros.
Protagonistas desta edificante história: João Bosco, Naninho, André Pedroso e Jorge Falsfein. Astro principal: Gustavo Bastos, o magnífico diretor de criação da casa. Pois o Gustavo, todos os dias, por volta das seis e meia da tarde, abria uma garrafa de uísque e chamava os já nomeados companheiros para dar-lhe (à garrafa) um fim digno. Era um costume tão costume que ritual já era. As pessoas chegavam, Gustavo gritava para a secretária: “Maria, pede o gelo!”, ela ligava para a copa e dizia: “Gelo pro Gustavo”. E em questão de segundos chegava um garçom com a bandeja de uísque, copo e gelo.
Até a garrafa esvaziar, ninguém arredava o pé, embora não fosse tarefa difícil para caneadores profissionais, ainda mais que podiam contar sempre com a espontânea ajuda de outros colegas que sempre davam um jeito de comparecer à sala do Gustavo nos fins de tarde. E os dias se passavam. “Gelo pro Gustavo!” era a senha. E mais uma garrafa saltava da copa com o líquido que Vinícius de Moraes um dia chamou de “cachorro engarrafado”, ou seja: o verdadeiro melhor amigo do homem. Até que um dia teve uma apresentação para as Ceras Johnson às 8 da manhã.
Uma puta de uma enorme de uma apresentação, com pesquisa, planejamento, pré-testes, o escambau. Principalmente o escambau. João Bosco e Gustavo chegaram às 7, de terninho, nervosos como noivas, para os devidos ensaios finais. Veio a Thompson inteira, pessoal de pesquisa de São Paulo, diretor de atendimento da América Latina, coisa da maior seriedade. Nessas horas quem já trabalhou em multinacional sabe que a adrenalina vai aos píncaros.
Além de agradar ao cliente, existe a necessidade de se mostrar para os colegas de fora. E os que vêm de fora precisam justificar a viagem. Logo, o clima fica tenso e os egos pululam como pardais enlouquecidos. Carreiras podem acabar numa hora dessas. Um único erro pode custar uma vida profissional. Ou construir uma reputação. Quem viveu, se lembra. Pois, minutos antes de chegar o cliente com sua diretoria internacional (já contei que era uma mega-apresentação), o Gustavo dá uma topada no pé da mesa e arrebenta o dedão. Estava aos pulinhos, falando os mais cabeludos palavrões que se possa imaginar, quando entra o cliente.
João Bosco resolve ajudar e pensa em fazer uma compressa no pé do Gustavo antes que a dor ficasse maior ainda e ele, fora de si, mandasse o cliente à merda. E grita para a secretária: “Maria, arruma gelo!” Por reflexo condicionado, a infraestrutura se movimenta como num balé e, às 8 da manhã, na sala de reuniões da Thompson, diante de duas diretorias internacionais, entra um garçom com uma garrafa de Black & White, gelo e quatro copos altos. Diz a lenda que o constrangimento foi tão grande que o Gustavo bebeu o uísque pelo gargalo. Mas desta parte eu duvido.
Lula Vieira, no Propaganda & Marketing.
22.3.10
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