30.3.08

Na cama com um robô

Fazer amor sem complexo aos 80 anos. Adquirir objetos sexuais de uma tecnicidade inimaginável atualmente. Realizar virtualmente as fantasias mais ousadas na Internet... Tudo isso, dentro de vinte anos, talvez já seja parte da nossa paisagem familiar.

Mas isso não é nada se comparado com aquilo que prevê David Levy, um pesquisador britânico em inteligência artificial. O título da tese que ele defendeu, em outubro de 2007, na Universidade de Maastricht (Holanda), "Relação íntima com um parceiro artificial", fala por si mesmo. E mais ainda o do livro que a editora HarperCollins dela extraiu, "Love and Sex with Robots" ("Amor e sexo com robôs"). Resumindo: David Levy afirma que em 2050, os robôs se parecerão tanto com a gente, no plano físico e comportamental, que alguns dentre nós se apaixonarão por eles, e com eles terão relações sexuais.

E se isso for verdade? Se só lhes faltasse a aparência humana para nos seduzir? No que diz respeito aos sentimentos, o sucesso dos Tamagotchi ou de Aibo, o cão robô da Sony, mostra que a nossa necessidade de apego pode muito bem se fixar em seres virtuais, às vezes chegando até mesmo às raias da insensatez

Em relação ao sexo, o caminho parece estar traçado de modo ainda mais nítido: no momento em que os objetos sexuais já podem ser comprados a partir do catálogo de vendas por correspondência de respeitáveis empresas comerciais, e numa época em que o direito ao prazer está sendo exibido em todas as esquinas, o obstáculo não parece ser tanto de ordem moral quanto técnico. E os fabricantes de "love dolls" (bonecas do amor) já estão rivalizando no plano da engenhosidade para conferirem a essas bonecas de silicone de tamanho real, que há muito deixaram de ser "infláveis", a mais realista das aparências. A prova disso está na Internet.

Basta clicar em alguns endereços para conhecer Brigitte, cujo esqueleto é feito de alumínio articulado; peito com circunferência de 90 cm; altura de 1,67m, "três orifícios funcionais" (Mechadoll, França, 6 990 euros - cerca de R$ 19 mil). Ou descobrir os encantos de Andy, que "geme quando você a acaricia", ou Loly (a cabeça das duas é intercambiável), cujos olhos "enxergam" por meio do seu software de reconhecimento de formas (First Androids, Alemanha). Ou ainda render-se ao charme de um exército de "candy girls" ("gostosas") asiáticas - de longe as mais doces e as mais realistas (Orient Industry, Japão).

Até o presente momento, vale reconhecer que essas bonecas de amor não cativam mais do que alguns milhares de amadores em todo o mundo. Homens estes que, em sua maioria, são solteiros, possuem uma polpuda conta bancária, mas cujo coração está triste e solitário. Contudo, o que aconteceria se esses campeões do sexo seguro e de pele acetinada se tornassem capazes de se mover "naturalmente"? Se eles dessem mostras de iniciativa, e, sobretudo, daquele "suplemento de alma" que tanto importa para nós?

trecho de matéria publicada no Le Monde.

tradução: Jean-Yves de Neufville

colaboração: Rodrigo Gonzalez

Um comentário:

Unknown disse...

Se uma boneca dessas vier a tomar a iniciativa, não vou mais querer saber de outra coisa

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