27.7.06

Malta: sobrenome ou adjetivo?

O Congresso está diante de uma encruzilhada: investigar os quase 15 por cento de seus membros acusados de envolvimento no escândalo da venda de ambulâncias com preços superfaturados ou fingir que investiga e deixar tudo como está, preservando o velho esprit de corp, que tem caracterizado a postura da casa. É verdade que, para disfarçar, de vez em quando um ou outro vai para o chuveiro mais cedo.

Acontece que estamos a pouco mais de dois meses da eleição e muitos dos investigados são candidatos à reeleição. A CPI dos sanguessugas já deixou escapar que tem provas concretas contra uns oitenta por cento dos acusados, mas os nomes dos noventa parlamentares já estão na boca do povo. Isso significa que, na eleição, inocentes podem ser prejudicados e corruptos podem conquistar novo mandato, se a comissão não chegar a uma conclusão, a tempo de separar o joio do trigo.

Tudo indica, pelo andar da carruagem, que esse festival de denúncias não vai dar em nada. Tem muita “gente boa” envolvida, inclusive um quase desconhecido ex-ministro de Lula (Saraiva Felipe), da quota do PMBD, na composição da base parlamentar. Tem também um sobrinho do "arauto da moralidade", senador Antonio Carlos Magalhães, Paulo Magalhães, do PFL-BA, e dez parlamentares da chamada bancada evangélica, um grupo que tem peso na hora de votar.

Por falar em bancada evangélica, foi incluido na lista de suspeitos o Senador Magno Malta (PL-ES). Me alongo em falar de Malta porque ele esteve no fim de semana no sul da Flórida, em evento patrocinado por uma igreja evangélica local, e foi personagem de um de nossos colunistas, Antonio Tozzi, no artigo publicado domingo último, com o título "Operação Vulcão".

Ouvido por nosso colunista, o senador deitou falação sobre a violência e o narcotráfico, indicando soluções para todos os problemas que o país atravessa nesse setor específico. E revelou que está um curso uma grande operação patrocinada pelo PCC de incendiar o Brasil, tocando fogo em ônibus e presídios simultaneamente nas principais cidades brasileiras, criando um clima de terror e caos. O que não está bem explicado é como é que um parlamentar tenha informação de tal gravidade e as autoridades de segurança não?

Mal sabia o senador que, ao chegar ao Brasil, encontraria seu nome na lista de suspeitos de envolvimento com a máfia das ambulâncias. Magno, que nas horas vagas é cantor de um grupo de música gospel, negou sua participação, mas confessou que recebeu como empréstimo um automóvel Fiat/Ducato que utilizou durante dois anos. Isso mesmo, dois anos. Quem vai acreditar nessa história do senador? Quem seria o bom samaritano capaz de “emprestar” um carro por tanto tempo? Magno Malta está em apuros, pois a comissão já revelou que alguns parlamentares receberam suas “partipações” em dinheiro, outros em automóveis. Portanto...

Estamos todos curiosos em saber qual será o destino dessa CPI, no apagar das luzes da legislatura. Aparentemente o sangue do contribuinte brasileiro foi sugado mais uma vez por um bando de aproveitadores que só envergonham o segmento honesto da classe política brasileira. Mas apesar de tudo, se houver um mínimo de espírito público por parte dos nossos congressistas, a hora é essa. Cortar na própria carne pode ser a volta por cima do atual congresso, tão desmoralizado nos últimos quatro anos.

Eliakim Araujo, em texto publicado em 27/7 no site Direto da Redação.

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