6.9.06

É de velho que o vinho vivifica

Negar os pobres de imaginação. Tocar os podres de espírito. Repartir com o diabo o pão amassado. Ajoelhar se for rezar. Erguer-se para contradizer. Dizer adeus aos deuses em questões de humanidade. Tomar a minha liberdade onde o outro deixa de avançá-la.

Cobiçar para saber perdoar. Não complicar a mulher para o próximo. Ignorar os outros como a si mesmo. Evitar os muito vivos. Enterrar os meio mortos. Tratar indiferentemente com deferência como se todos fossem diferentes. Ter classe de bailarina, paciência de Jó e malícia de vagabunda. Entregar uma boiada para sair da briga dos mais burros. Esfaquear a ponta dos murros.

Libertinagem ainda que tardia! Pois é de velho que o vinho vivifica... Respeitar e aproveitar os corpos amados como cristos abraçados às deliciosas cruzes de pecados.

trecho de "Moral e civismo", texto do escritor Fernando Bonassi publicado na Folha de S.Paulo em 5/9.

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