Fome e vontade de comer, apesar de fáceis de confundir, não são a mesma coisa; daí a possível união das duas, consagrada na expressão popular. Fome é necessidade básica; vontade de comer é desejo, cobiça, anseio. Para matar a fome, vale tudo, conforme o tamanho da necessidade -prato corriqueiro, comida sem tempero, até aquilo que normalmente não apeteceria ou, em caso extremo, causaria repulsa. Já a vontade de comer pode bater até quando não se tem fome.
Não faço essas considerações só para queimar calorias, ou melhor, caracteres. Tento encontrar paralelos para uma das discussões mais persistentes no futebol: a que gira em torno da presumida falta de vontade dos atletas, já que se compara a bola ao prato de comida.
Fome, todo jogador tem. Todos querem jogar e vencer. Dependendo da sua intensidade, encara-se qualquer osso duro: técnico difícil, rival chato, campo ruim. Mas pode-se matá-la quase por obrigação, sem gosto, sem desfrute. Cada jogo é só uma refeição engolida, mais nada.
Talvez parte do Corinthians esteja só tentando matar a fome, sem muita vontade de comer. Alguns, por desânimo e desalento com a eterna instabilidade e a falta de perspectiva; outros, por fastio crônico, que independe do que lhes é oferecido. Outros, talvez, para desmoralizar a autoridade doméstica. Na casa, falta pão e razão. Nesse clima conturbado, é difícil esperar outro resultado que não a indigestão, que pode ir além de um mal-estar passageiro.
Soninha, colunista da Folha de S.Paulo.
18.10.06
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Cadê o porquinho?rss
Postar um comentário