Dois dedos apontados para o céu

Quem nunca fez um golzinho, mesmo de canela, ao melhor estilo Beijoca, nos seus tempos de Bahia, passou pela vida e não viveu. O gol não é um gozo, orgasmo, um gol, para um macho ludopédico, é melhor do que sexo.

Um gol, senhores árbitros, é para extravasar a alma, cobrir a cabeça como Rivaldo, chutar a placa, mandar beijos para os filhos, fazer juras de amor à primeira-dama, ser um Romeu Cambalhota, imitar um porco como Viola, dançar a cúmbia com o Tevez, pedir silêncio no auditório inimigo, o resto é imbecilidade das regras, as tais recomendações da CBF ou da Fifa, grandes coisas, que se danem as interpretações mesquinhas de todas as leis.

Senhores árbitros, não sejam tapados, inflexíveis, senão corremos o risco de liberar só aqueles dois dedos apontados para os céus dos atletas de Cristo. Reservem os seus cartões para os açougueiros.

Um gol sem celebração é como sexo burocrático, duas vias, carimbo, protocolo, papel passado, sexo sem gritos e sussurros. É como se, depois do gozo, o artilheiro só acendesse o seu king-size do desprezo e virasse de lado. Por favor, mais zelo com o futebol, mais carinho com as moças!

trechos de "O gol e o sexo burocrático", texto de Xico Sá publicado na Folha de S.Paulo.