O australiano Rupert Murdoch, dono do império global de comunicações News Corporation, é conhecido como um empresário de métodos agressivos e um conservador. Não se sabia que pudesse ser também um homem de fé.
Uma decisão anunciada por Murdoch há duas semanas, porém, revelou que, pelo menos quando o assunto é faturamento, sua convicção é inabalável. A bandeira News Corporation acaba de ganhar mais um filhote: o estúdio FoxFaith, ou "FoxFé", que todos os anos deverá lançar cerca de uma dúzia de filmes à prova de qualquer objeção por parte do crescente público religioso americano.
Por suas características, sempre se acreditou também que esses espectadores não tivessem grande contribuição a dar à bilheteria. Uma iniciativa da própria Fox mostrou, há dois anos, quanto essa percepção era equivocada. A Paixão de Cristo, dirigido por Mel Gibson e comercializado pelo estúdio, tornou-se um sucesso colossal exatamente pelo eco que encontrou junto a esses fiéis.
O mercado de entretenimento cristão já movimenta 4,3 bilhões de dólares a cada ano entre os americanos. Trata-se de mais de um terço da bilheteria de Hollywood no mesmo período. E, se as projeções estiverem corretas, há espaço aí para lucros bem mais vultosos.
Desde o inesperado desempenho de A Paixão de Cristo, portanto, a indústria cinematográfica vem imaginando formas de explorar o potencial latente desse filão. As Crônicas de Nárnia, baseado nos livros infantis do católico fervoroso C.S. Lewis, foi outra aposta bem-sucedida, que juntou a Disney à empresa Walden Media.
Nenhuma dessas iniciativas, porém, é tão organizada quanto a FoxFaith de Rupert Murdoch. Seu objetivo é, primeiro, tornar-se uma espécie de selo de qualidade moral, capaz de assegurar mesmo ao espectador cristão mais conservador que aquele será um programa adequado à sua família.
Na última sexta-feira, previa-se o lançamento do primeiro título do estúdio nos cinemas, ainda em circuito limitado: Love's Abiding Joy. Baseado na série de romances da escritora Janette Oke, o filme trata de um casal que, na década de 1880, ruma para o Oeste e recorre à fé para suportar as adversidades da vida na fronteira americana.
Segundo os diretores do FoxFaith, essa deverá ser a linha mestra de sua produção – filmes de conteúdo apenas implicitamente religioso, e não dedicados ao proselitismo. Mas é possível que essa seja apenas uma postura inicial. Se o faturamento corresponder ao imaginado, não é improvável que Murdoch, cujos canais de televisão acolhem séries apimentadas como Nip/Tuck ou desenhos irreverentes como Os Simpsons, se torne, por intermédio da FoxFaith, o próximo grande evangelista.
fonte: Veja
8.10.06
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2 comentários:
Sempre pensei que C.S. Lewis fosse anglicano evangélico fervoroso, nunca católico. Talvez a informação que tenho esteja errada.
Pelo que sei católico fervoroso foi Tolkien, dos Senhores dos anéis e amigo de Lewis.
Vc está certo, Claudio. A Veja errou.
Confira um trecho do prefácio de Lewis no livro "O problema do sofrimento":
"Escrevo, é claro, como um leigo da Igreja Anglicana, mas não tentei nada que não fosse professado por todos os cristãos de batismo e em comunhão."
Já mandamos uma msg p/ a Veja. Vou criar um tópico c/ a mancada.
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