Há dois anos, quando estourou com o hit Sou Feia, Mas Tô na Moda, a carioca Tatiana Santos Lourenço, conhecida pelo nome de funkeira de Tati Quebra-Barraco, começou a mudar de vida.
De apresentações em barracões claustrofóbicos na periferia, foi alçada a celebridade com shows pela Europa, participação especial na novela das 8, cachês recheados para animar aniversários de milionários e até capas de revista de moda. Ex-cozinheira de uma creche na favela de Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, saltou da pobreza absoluta para o estrelato – no auge, chegou a faturar 250.000 reais por mês.
Atualmente, passada a explosão da novidade, mas ainda com a agenda lotada de shows, Tati divide seu tempo entre desfrutar a felicidade que o dinheiro comprou (imóveis diversos, guarda-roupa entupido de grifes, carro, jóias), meter-se em confusão (foi presa por porte de maconha há três meses e por dirigir sem habilitação em novembro) e reformar integralmente o corpo.
Como, segundo ela mesma diz, havia muito espaço para reformas, Tati submeteu-se até agora a pelo menos vinte procedimentos cirúrgicos, além de implantes de cabelo, aplicação de unhas postiças e aparelho para corrigir os dentes (folheado a ouro). Carteira de identidade com foto de dez anos atrás em punho, ela ordena: "Olha para isso. Olha de novo. Isto aqui assusta no escuro. Eu tô ficando filé. Eu tô ficando gostosa. Isso é bom demais".
Em 2004, pesava 92 quilos. Hoje, baixou para 57. "Foi tudo chupado mesmo. Só das costas tirei 9 litros de banha. Não faço regime. Como tudo, e muito. Adoro pé de galinha. Na minha casa, não pode faltar pé", informa. Tati fez lipo no pescoço, nos braços, nas costas, nas coxas, no rosto – e, garante, em lugares de alta intimidade. Extraiu um pedaço de osso do quadril para modelar um nariz afilado, refez o umbigo, amarrou os músculos flácidos da barriga, levantou e pôs silicone nos seios. Tudo cortesia da Clínica Santé, em São Paulo.
Ainda falta colocar silicone nas nádegas, amarrar a musculatura do pescoço e fazer um implante de cabelo liso e dourado fio a fio – "Igual ao da Beyoncé. Também quero tirar umas costelas para afinar a cintura, como a Shakira e a Mariah Carey fizeram."
Sua outra devoção, ao dinheiro, é igualmente explícita. "Olha este cordão de ouro. Custou 15.000, minha filha! Eu é que não uso mais chapeado, que fica preto. Sou louca por ouro", diz. Da última vez que contou, tinha 900 calças da marca Gang, um ícone do mundo funk. Tênis, são mais de 200. "Compro alguma coisa todo dia", conta. Não dá de presente nem doa nada. "E se eu ficar pobre de novo?"
Como uma espécie de budista instintiva, Tati tem um profundo senso da impermanência das coisas. "Não deixo ninguém cuidar do meu dinheiro. Não uso cheque porque é ilusão. Eu não sei o dia de amanhã", declara.
Com um patrimônio de cerca de 800.000 reais, conserva o estilo de origem, só que com muito mais dinheiro. Não saiu da periferia (comprou quinze apartamentos para alugar na Cidade de Deus, uma casa de quatro quartos, com piscina e churrasqueira, em Jacarepaguá, lá perto, e outro apartamento para uso próprio no bairro do Tatuapé, em São Paulo) e anda com os mesmos amigos de dez anos atrás.
A faxina da casa, que chama de "minha mansão", fica por conta da mãe (paga 100 reais o dia) e de duas amigas dela (50 reais cada uma). "Pobre não vai para a frente porque ganha dinheiro e já arruma duzentos gastos. Para que vou chamar estranho para limpar minha casa se tem minha mãe e as amigas dela que não têm dinheiro?", indaga. Em seu camarinho (camarim, em quebra-barraquês) reinam cigarros Derby, licor Amarula, cerveja e energético. Além de um inconfundível e persistente cheiro de orégano.
O mundo do funk tem músicas pobres, coreografias vulgares, meninas com roupas agarradas e decotadas, bebida barata e muita pegação. Tati adora tudo isso e se surpreende com o sucesso na classe alta. "Eu sou favelada, cresci com rato comendo o meu pé. Agora as patricinhas ficam aí rebolando com a minha música", gargalha.
O irmão, Márcio, ex-vendedor de quentinhas, é quem compõe a maioria das letras. (Diz o último sucesso: "Chique é nada / ela é cachorra na balada / Pensa que é chique / mas de chique não tem nada / Mete pose de gatinha / mas se amarra em cachorrada".) Palavreado chulo, atitude arrogante, Tati se assume como encrenqueira contumaz. Parar na delegacia, por exemplo, para qualquer um seria um constrangimento. "Mas parece que as pessoas esperam isso de Tati. Ela é estourada. Estamos ensinando que precisa contar até dez", diz o empresário José Alfaya.
Aos 27 anos, três filhos (a caçula, 2 anos, por também ser invocada, ganhou o apelido de "Mila Quebra-Berçário"), Tati perdeu a conta de quantos maridos teve. Dois foram assassinados. Com o último, com quem está há cinco anos, costuma "sair na porrada" – para provar, exibe cicatriz de facada na palma da mão direita. "Sou barraqueira mesmo. Briguei e bati em metade da Cidade de Deus", desafia. Estudou até a 4ª série: "Eu sei ler e escrever. Agora não me pede para escrever Stephany num autógrafo que não sai mesmo".
Quando se apresentou na Suíça e na Alemanha, mal saiu do hotel e a única lembrança que tem é de uma ida ao supermercado: "A carne moída lá custa 70 reais". Não gosta de teatro nem de cinema (viu o filme Cidade de Deus e achou "uma m..."), mas passa horas em frente à televisão. Vê pouco os filhos e o marido. O que falta em sua vida? "Ah, falta muita coisa. Botar meu silicone na b..., comprar uma Hilux , abrir um restaurante-boate, posar pelada." De funk em funk, espera chegar lá.
fonte: Veja
10.12.06
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