Andamos demais acomodados, todo mundo reclamando em voz baixa como se fosse errado indignar-se. Sem ufanismo, que dele estou cansada, sem dizer que este é um país rico, de gente boa e cordata, com natureza (a que sobrou) belíssima e generosa – sem fantasiar nem botar óculos cor-de-rosa que o momento não permite, eu me pergunto o que anda acontecendo com a gente.
Tenho medo disso que nos tornamos ou em que estamos nos transformando, achando bonita a ignorância eloqüente, engraçado o cinismo bem-vestido, interessante o banditismo arrojado, normal o abismo em cuja beira nos equilibramos – não malabaristas, mas palhaços.
Saúde, educação, cultura, estradas, ferrovias, aviação estão numa decadência nunca vista, sem falar na honradez de nossos homens públicos. Líderes mentem e se desmentem, acobertam-se, insultam-se, à vista de todos se comprometem com a corrupção e os mais variados escândalos!
Tudo normal, como o império macabro da violência que nos faz correr nas ruas feito ratos amedrontados, fechados em casa à noite devido à guerra civil, felizes se nenhuma das pessoas que amamos foi assaltada e morta naquele dia.
Dormimos no chão dos aeroportos, contentes quando nosso avião afinal chega salvo ao seu destino, enquanto se fazem mais cortes nesse setor e em muitos outros, para poder pagar o fantástico salário de deputados e senadores: as coisas por aqui são assim mesmo, por que se incomodar?
Lya Luft, na revista Veja.
26.12.06
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Um comentário:
POVO MARCADO, POVO FELIZ!
Já dizia o poeta...
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