Imaginemos, só para argumentar, que o casal que comanda a igreja Renascer seja absolutamente inocente. Que, nos tribunais, fique claro que jamais cometeram delito algum. Não importa: já estão condenados. E ai do juiz que se atrever a inocentá-los: a opinião pública (ou "clamor popular") vai considerá-lo suspeito.
Este é um tema que precisa ser discutido entre nós, jornalistas: a aceitação passiva das versões de promotores, delegados, autoridades diversas, divulgadas amplamente, maciçamente, nos títulos, enquanto a defesa fica com um parágrafo tipo "fulano nega as acusações", o que leva à condenação moral dos acusados (e a casos como o da Escola Base). As autoridades têm de ser ouvidas, mas sem que se esqueça que nunca, nem nos crimes mais escancarados da época da ditadura, faltaram autoridades que endossaram formalmente a tese do suicídio.
O uso da imprensa na criminalização prévia dos acusados é hoje fato comum, rotineiro. Autoridades municiam a imprensa com farto material de reforço à versão que defendem, para que os juízes, sentindo-se pressionados pelo "clamor popular", concordem mais facilmente com as medidas propostas pelos promotores. Num caso recente, em Ribeirão Preto (SP), num dia especialmente quente, um promotor saía da sala onde se interrogava um suspeito, subia e descia escadas, esfalfava-se, suava desesperadamente, tudo para garantir à imprensa, quase em tempo real, a versão dos acusadores.
Um grande advogado, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, escreveu excelente artigo no O Estado de S.Paulo na quarta-feira ("A realidade do combate ao crime das elites", 10/1/2007), mostrando que o aparato usado nas buscas e prisões, aliado ao noticiário francamente desfavorável aos acusados, constitui-se numa pena extra, não prevista na lei.
Imaginemos outro cenário: um jornalista sendo acusado por crime de opinião, com promotores ávidos por entrevistas e repórteres ávidos para publicá-las. Como vemos, está mais do que na hora de debater este tema.
Carlos Brickmann, no Observatório da Imprensa.
22.1.07
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3 comentários:
Seria muito fácil não condenarmos o "bispo" e a "bispa" da Renascer se os mesmo tivessem a decencia de quando foram acusados, os mesmos se colocassem a disposição da justiça, bem como os livros da igreja, e fizessem esclarecimentos ao senso comum, ao invés disso fugiram para os Estados Unidos e ainda por cima com dóleres escondidos na bíblia. Diante disso não dá nem para imaginar inocência num caso desses.
Acho perfeitamente aceitável o "julgamento" dos líderes da renascer. Primeiro porque "roupa se suja se lava em casa" e os evangélicos não conseguem fazer isso. Segundo, que essa é a ética de Deus. Vejam os textos de Ez. 9.6 e 1 Pe 4.17. O julgamento de Deus começa pela Sua própria casa e seu próprio povo.
Acredito que a questão não é a condenação do casal Hernandes, mas a pré-condenação de réus (evangélicos ou não) pela opinião pública manuseada pela imprensa. Perdemos a noção do senso crítico. Fico imaginando, por exemplo, quantos dão crédito à falácia da evolução das espécies, (que aliás, nunca passou de teoria) depois de um elaborado trabalho de ficção exibido em horário nobre na toda-poderosa da televisão. Sem falar do espiritismo das novelas medíocres sendo empurrado goela abaixo.
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