19.1.07

Lavagem gospel (20)

O velho Leonel Brizola era um frasista emérito. Político inteligente e sagaz, Brizola sabia botar o dedo na ferida. E os repórteres da Globo sofriam na mão dele. Sabendo da cerrada marcação que a emissora dos Marinho exercia sobre ele, certa vez, quando terminou a entrevista, Brizola perguntou à reporter: “Em que telejornal essa entrevista não vai entrar?”. Brizola era assim, objetivo e direto, não tinha medo dos poderosos da mídia. Se a Globo elogiava muito determinado político ou projeto de governo, ele dizia: “se a Globo está a favor, algo há!”.

A coluna trouxe de volta a figura do carismático líder, para lembrar que o raciocínio dele vale também para o inverso. Ou seja, se o noticiário global bate duro em determinada pessoa ou instituição é porque há algum interesse embutido.

É o caso atual dos líderes da Igreja Renascer, presos quando entravam com dinheiro não declarado nos Estados Unidos e réus em vários processos no Brasil. Um rápido levantamento no site Globo.com, que qualquer um pode acessar porque as matérias referentes aos Hernandes estão na área de videos livres, parece indicar que há algum objetivo maior do que simplesmente informar. Está lá, no Globo.com:

No Jornal Nacional: dia 9, 2 minutos e 55 segundos; dia 11, 2 minutos e cinco; dia 12, 1 minuto e 45; dia 13, 1 minuto e 31; dia 15, 1 minuto e 30; dia 17,1 minuto e 23. E no Fantástico do dia 14: 5 minutos e 41 segundos.

Ou seja, somente em dois produtos jornalísticos, JN e Fantástico, em sete dias, a emissora gastou 16 minutos e 83 segundos falando do casal Hernandes.

Sobre o assunto, Carlos Brickmann, no Observatório da Imprensa do ultimo dia 16, levanta com propriedade a questão do prejulgamento, quando o jornalista se arvora, intencionamente ou não, em promotor e juiz. Leia o que diz Brickmann:

“Este é um tema que precisa ser discutido entre nós, jornalistas: a aceitação passiva das versões de promotores, delegados, autoridades diversas, divulgadas amplamente, maciçamente, nos títulos, enquanto a defesa fica com um parágrafo tipo "fulano nega as acusações", o que leva à condenação moral dos acusados (e a casos como o da Escola Base)”.


As matérias do JN têm sido assim. Espaços generosos para o promotor e poucos segundos para o advogado dos acusados. No Fantástico, foram usados depoimentos de ex-fiéis da Renascer, todos escondidos numa sombra, sem identificação. O telespectador fica sem saber quem são aquelas pessoas, se são sérias ou estão a serviço de alguém.


Não é intenção da coluna defender o casal da Renascer, até porque eles têm dinheiro bastante para contratar os melhores advogados. A questão é descobrir o que há por trás dessa campanha orquestrada da Globo. E não é preciso ser nenhum gênio para deduzir que são vários os interesses.


O primeiro deles é o inegável crescimento das denominações evangélicas no Brasil, fato que não interessa à Globo que é tradicionalmente católica. O segundo, e o mais importante, é o ingresso desses segmentos no mercado televisivo. Renascer e Record possuem canais de TV, sendo que a segunda já incomoda a liderança global. Sobretudo no atual momento, quando a cobertura da Record no desabamento nas obras do metrô em SP superou a líder em audiência.


Resumo da ópera: posso estar enganado, mas tudo indica que a Globo está batendo na Record pela via indireta. Não lhe parece, leitor (a)?

Eliakim Araujo, no site Direto da Redação.

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo em gênero, número e grau.

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