20.1.07

Mais de mil palhaços no salão

No primeiro carro alegórico, jogando beijos para a multidão, vem o grande líder bolivariano Hugo Chávez, em seu uniforme multicolorido, com seus alamares, borlas e dragonas dourados, sob o imenso quepe, e com o peito pesado de medalhas, cercado por seguranças fantasiados de astecas e lindas morenas de seios de fora. A bateria explode, a torre de petróleo cenográfica lança jatos de chocolate, a massa delira e se lambuza, como se fosse melado comido pela primeira vez.

Logo atrás, no alto de uma alegoria menor, mas não menos luxuosa, cercado por imensas plantas de coca cenográficas e por belas índias seminuas, com a segurança em trajes típicos dos Andes, o grande líder cocaleiro Evo Morales acena para o povo, com sua touca multicolorida lhe cobrindo as orelhas e seu casaco de pele de lhama. Os canhões do carro despejam chuvas de folhas de coca sobre o público, todo mundo ligadão até o "grande amanhã" chegar.

A América Latina finalmente começa a sua integração pelo caminho da festa, especialidade dos hermanos brasileiros. No refrão da salsa-enredo, as congas e timbales repicam e todos gritam, de punhos fechados: "Patria o muerte!". Depois o refrão muda para "socialismo o muerte!", as mulatas rebolam, as índias se sacodem. De mãos dadas e braços para o alto, todos gritam: "Revolución o muerte!".

Embora Carnaval não combine muito com morte, o desfile imaginário é a perfeita integração entre fantasia, alegoria e ideologia que Chávez e Morales representam e que atrasa e empobrece as Américas cada vez mais, sob inspiração do fantasma de Fidel e de seus ideais de ordem e progresso.

O enredo "O Mundo Mágico do Perfeito Idiota Latino-americano", versão 0.7, começou a ser ensaiado nesta semana no Rio.

Nelson Motta, na Folha de S.Paulo.

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