7.2.07

A força da fé (2)

A mais impressionante indicação de que a necessidade de cultuar um Deus está estampada na evolução humana encontra-se numa pesquisa realizada pelo biólogo molecular americano Dean Hamer, chefe do setor de estrutura genética do National Cancer Institute, e publicada em seu livro The God Gene: How Faith is Hardwired into Our Genes (O Gene de Deus: Como a Fé Está Embutida em Nossos Genes).

Hamer afirma ter localizado no ser humano o gene responsável pela espiritualidade. Esse gene também teria a função de produzir os neurotransmissores que regulam o temperamento e o ânimo das pessoas. Segundo o livro do biólogo, os sentimentos profundos de espiritualidade seriam resultado de uma descarga de elementos químicos cerebrais controlados por nosso DNA.

A concepção de que a espiritualidade está gravada no genoma humano encontra eco numa das mais antigas religiões, o budismo. Seus adeptos acreditam que todo ser humano herda uma semente espiritual da pessoa que ela foi na encarnação anterior. Essa semente se combinaria a outras duas, herdadas dos pais, para formar suas características físicas e espirituais. Estudos anteriores ao de Hamer também conduzem à noção de que a espiritualidade está entranhada nos genes.

No fim dos anos 70, numa pesquisa que se tornou célebre, cientistas da Universidade de Minnesota estudaram 53 pares de gêmeos univitelinos, ou seja, gerados no mesmo óvulo e com DNA idêntico, e 31 pares de gêmeos bivitelinos, gerados em óvulos diferentes. Todos os gêmeos haviam sido separados após o nascimento e criados a distância. Como se esperava, os gêmeos com DNA idêntico, mesmo privados da convivência mútua, apresentavam traços de personalidade, comportamento e hábitos muito semelhantes.

Os gêmeos idênticos eram duas vezes mais propensos a cultivar a espiritualidade no mesmo grau de seu irmão do que os gêmeos bivitelinos. Já quando se analisava a tendência a praticar uma religião, os gêmeos idênticos apresentavam significativas diferenças entre si – sinal de que o hábito de rezar e freqüentar igrejas ou templos é adquirido culturalmente.

O fato de a espiritualidade acompanhar o homem em sua evolução é, provavelmente, o motivo pelo qual o conceito de Deus surge em todas as sociedades humanas desde tempos imemoriais, mesmo entre as mais isoladas. Já o divórcio entre a fé religiosa e a ciência, que hoje se encontra na ordem do dia, é um fenômeno recente. Até o fim do século XVIII, a Igreja Católica, assim como se confundia com o Estado, legitimando o poder monárquico com a bênção do poder divino, andava de braços dados com a ciência.

O cisma ideológico entre fé e ciência começou no iluminismo, movimento surgido na França que pregava o uso da razão para explicar o mundo e o universo, desafiava o papel da religião na sociedade e propunha uma nova ordem social, na qual os interesses humanos estivessem no centro das decisões. Só no século XIX, quando o inglês Charles Darwin deixou o mundo atônito com sua teoria da evolução das espécies, que negava a criação bíblica, as divergências entre o mundo da ciência e o da religião assumiram contornos de guerra cultural.

Hoje se vive um equilíbrio precário entre ciência e fé. Nos Estados Unidos, apenas 3% dos cientistas mais respeitados, aqueles que pertencem aos quadros da National Academy of Sciences, acreditam em Deus. Biólogos, como o inglês Richard Dawkins, e filósofos, como o americano Daniel Dennett, escrevem livros e artigos tentando desqualificar a religião como um mal que anestesia as sociedades e as priva das virtudes da razão.

Os religiosos contra-atacam ao insistir, por exemplo, que as escolas públicas americanas deixem de ensinar as teorias de Darwin e as substituam pelos ensinamentos da Bíblia. Há também personagens ilustres que tentam contemporizar, como o biólogo americano Francis Collins, que se declara cristão, diz que ciência e religião não se misturam e que se podem cultivar ambas.

fonte: Veja

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