6.2.07

Tua luz brilha à noite

De bons poderes sinto-me cercado,

bem protegido e, de fato, consolado;

assim desejo eu passar os dias

e ter convosco um ano de alegrias.

Ainda o passado nos tortura,

de dias maus nos pesa a amargura,

Senhor concede às almas espantadas

a salvação para a qual não estão preparadas.

Estende-nos o cálice amargo

da dor, e o bebamos sem embargo,

porque nos vem das tuas mãos divinas;

até sofrer com gratidão tu nos ensinas.

Mas se quiseres dar-nos alegrias

ainda sob o sol dos curtos dias

do mundo, lembraremos o passado,

e entregamo-nos ao teu cuidado.

Deixa que estas velas que chamejam

um bom sinal de ti, nas trevas, sejam;

permite mais uma vez que nos encontremos,

pois tua luz brilha à noite bem sabemos.

E quando se fizer aqui tranqüilidade,

toda ao redor, plena sonoridade

do mundo, invisível, nos envolva,

então, num hino, o louvor se te devolva.

De bons poderes vemo-nos cercados,

de pensamentos para o bem voltados.

Deus está presente noite e dia,
assim é certa hoje sua alegria.
--
poema do Dietrich Bonhoeffer publicado no livro "Resistência e Submissão"
(Ed. Paz e Terra, Sinodal). Chama-se "De bons poderes" que ele escreveu
para os seus pais, da prisão, por ocasião da passagem de ano de 1944.
Em abril de 1945 ele foi executado pela Gestapo.
--
colaboração: Judith Almeida

Um comentário:

Anônimo disse...

Sou alemao e o poema e muito importante para mim. Sempre lamentei que a minha mulher nao pode conhecer o como so fala portugues. Obrigado para ter posto "os bons poderes" aqui

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