21.3.07

Blônica do dia (2)

Hoje não me alegram
as amendoeiras do horto.
Me lembro de ti.
Jorge Luis Borges

Dia desses vivi uma experiência inusitada. Estava faxinando a caixa postal e me deparei com msgs de duas pessoas muito queridas. Em comum, a vivência na área musical em igrejas e o fato de terem falecido há algum tempo.

Reler aquelas linhas mexeu comigo. Pensei nos projetos abortados e nos sonhos devolvidos à esfera da imaginação. Na época, sofri junto com os que ficaram e derramei muuuuitas lágrimas pela quase intransponível dor provocada pela separação.

Semanas depois, descobri que o mailing do Outlook em casa estava c/ mais de 5 mil nomes. Aproveitei o divórcio profissional p/ enviar um e-mail p/ o grupo e atualizar a lista de contatos. Antes de fazê-lo, porém, lembrei que seria melhor "filtrar" o rol de pessoas.

A experiência novamente foi estranha. Enquanto percorria a lista imensa, selecionava alguns nomes e apertava a tecla "delete". As pessoas não haviam morrido, contudo não existia mais nenhum contato entre nós e não fazia muito sentido enviar alguns parágrafos eivados de emoção. Afinal, rasgar o coração c/ leitores anônimos é bem mais confortável... :)

Da mesma forma que a emoção tomou conta de mim ao lembrar daqueles que hoje estão cantando c/ os anjos, um sentimento de tristeza perturbou minha alma. Será possível sepultar pessoas vivas? O ressentimento entre irmãos só é resolvido quando uma das partes muda de igreja e aperta definitivamente a tecla "delete"?

Novamente me lembrei de Renato Russo: "Tenho saudade de tudo que ainda não vi". Uma espécie de banzo encontrou destino certo no meu coração ainda fragilizado. Saudades do que poderia estar vivendo com essas pessoas tão queridas. Vontade não concretizada de transpor apenas alguns metros e me aninhar num abraço demorado.

Clarice Lispector escreveu que "saudade é um pouco como fome; só passa quando se come a presença". Confrangido, ausculto o coração p/ constatar mais uma vez o terreno limpo de mágoas e propício p/ novas sementes a serem plantadas. Ainda assim, o coração segue roncando de fome... Até quando?

4 comentários:

Anônimo disse...

Até que ELE volte.

Anônimo disse...

Ai meu lindo! Que delícia ler seus textos. Você escreve sempre com o coração.
Bjoka

Anônimo disse...

Pava, a Bíblia manda ter paz com todos se depender de nós. Quando não depende é problema das pessoas com Deus.
Fique em paz!

Anônimo disse...

Psiiiuuuu! Não se pode abraçar tudo ao mesmo tempo. Os que são persistente na continuidade é que sobram, mas mesmo assim se for um grande número vão sobrar aqueles mais teimosos em querer nunca se afastar e estão para o que der e vier. Amizade é algo que se constrói a muito custo. Quanto aqueles que realmente não dão para reatar fico com o comentário acima.

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