Blônica do dia (4)

Instigado pelas reflexões sempre argutas de Henry Nowen, dia desses estava refletindo s/ o episódio no qual Jesus encontra-se com dois discípulos no caminho de Emaús.

Como aconteceu na parábola da ovelha perdida, diz o texto bíblico que "o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles" (Lc 24.15).

Hoje exige-se dos líderes que sejam executivos e, como tal, a agenda deles está repleta de compromissos e atividades. Como apregoa o clichê, o fazer sobrepuja o ser. O tempo escasso não lhes permite tarefas prosaicas como se aproximar de ovelhas.

Secretárias são filtros eficientes. Em desuso nas empresas, a frase "pode adiantar o assunto?" ainda deve ser comum em algumas comunidades. Aguardo o dia em que um gaiato em desespero responda: "Sim, posso adiantar. É que tenho um caso com a mulher do presbítero Fulano e gostaria de receber orientação".

Voltando a Emaús, Jesus pacientemente ouviu o relato dos caras. Expectativas frustradas misturavam-se à interpretação equivocada dos fatos. Pra completar, os olhos deles estavam impedidos de reconhecê-lo.

No entanto, nada disso impediu Jesus de ouvi-los antes de falar, deixando um princípio importante p/ nós: quem não ouve perde a autoridade quando fala. Remetendo a Marshall McLuhan, "o meio é a mensagem".

Sem nenhum tipo de atividade que permita a comunhão e o entrosamento, a Universal criou um progama de TV chamado Fala que eu te escuto. Acertou no diagnóstico e agiu erroneamente na prescrição do remédio. Afinal, nada pode substituir a empatia no olhar e o calor de um abraço.

A situação parece (e é!) absurda. Como lembrou Nowen, "absurdo" significa literalmente "surdez profunda".

Aproximando-nos da Páscoa, oro p/ que o Senhor ressuscite a capacidade auditiva e a compaixão, restaurando o poder terapêutico desse Corpo inanimado em muitos lugares que carecem ver sua manifestação através de nós. Assim seja.