Destino malcheiroso

Minha última crônica foi sobre como a igreja católica poderia fazer uma campanha de propaganda. Era uma visão bem-humorada de alguns problemas de comunicação que os próprios cardeais da igreja acham que a instituição está tendo atualmente. É claro que eu adorei a crônica. O que não é nenhuma novidade, ultimamente tenho concordado bastante comigo mesmo.

Graças a Deus, muita gente também gostou. Fico sempre muito feliz em receber comentários sobre o que escrevo. Mesmo quando acham uma tremenda de uma porcaria. É importante ouvir opiniões contrárias. Se eu fosse apenas acreditar nos meus filhos, na minha mulher e nos meus amigos, acabaria me considerando um gênio.

Aliás, é a opinião de minha auxiliar lá em casa, toda vez que imito Pavarotti. Ela acha que eu teria tudo para substituir o Tiririca.Tudo bem que fazer humor não é minha intenção quando canto La Strada Del Bosco, mas aplauso é aplauso e não estou aqui para decepcionar uma fã.

Voltando à crônica, recebi uma quantidade bastante significativa de e-mails elogiando. Mas, como sempre, existem os mais maluquetes que são incapazes de entender subtextos. E um cidadão me escreveu profundamente indignado. Me ameaçou com o inferno. Me xingou de idiota. Garantiu que eu escrevo lorotas sobre coisas sérias. Sabe que ele tem razão?

Sou realmente uma besta, escrevo lorotas sobre coisas sérias, não entendo nada de liturgia, apesar de ter sido coroinha na minha infância e juventude (sei a missa inteirinha em latim) e devo realmente ser um seríssimo candidato à danação eterna.

Conto apenas com a idéia de que Deus, na sua infinita misericórdia, há de relevar essas faltas que cometo no vale de lágrimas e reserve tanto no céu como no seu coração um lugar para o palhaço aqui, cujo maior mal tem sido tentar rir da vida, já que de dor e sofrimento andamos todos devidamente aquinhoados.

Em outras palavras, "hony soit qui mal y pense", que quer dizer mais ou menos "vá a merda quem fica vendo só maldade nas coisas".

Lula Vieira, no jornal Propaganda & Marketing.