No final dos anos 80, um estudo altamente divulgado do antropólogo americano Sheldon Annis concluiu que as comunidades protestantes são comercialmente mais bem-sucedidas que as comunidades católicas. Annis comparou a produtividade das operações de tecelagem em duas aldeias na Guatemala. Suas conclusões apontaram que, em comparação aos católicos, os pentecostais adotaram técnicas modernas de produção mais rapidamente, eram mais eficientes e mais preocupados em progredir.
"Apesar de sua freqüente identificação política atual de direita", escreveu Annis, "em pelo menos um sentido os primeiros missionários protestantes eram revolucionários das bases. (...) Aos olhos deles, a Igreja, o álcool e a dívida eram instrumentos de escravidão -e eles, os missionários, eram os libertadores".
As comunidades pentecostais são, portanto, percebidas como igrejas para alpinistas sociais. Em vez de prometerem uma vida melhor no paraíso, elas pregam sobre a riqueza aqui e agora. E oferecem assistência prática na batalha contra o álcool e as drogas.Logo, não é de se estranhar que sejam ímãs para os pobres. A favela de Vigário Geral é uma das mais perigosas no Rio, mas conta com 14 comunidades pentecostais -e apenas uma Igreja Católica. Nos presídios superlotados da cidade, que são em grande parte controlados pelas gangues do narcotráfico, pastores protestantes converteram milhares de criminosos em cristãos renascidos. Vários chefões do crime e matadores se tornaram homens de Deus. Nas favelas do Rio, as igrejas pentecostais e as gangues da cocaína coexistem em um estado de simbiose confortável.
Era noite de sexta-feira em São João de Meriti, uma cidade pobre do Rio. Algumas poucas centenas de fiéis, entre eles antigos chefões das drogas, assassinos e ladrões, se reuniram na igreja pentecostal Assembléia de Deus dos Últimos Dias. Os homens vestiam ternos e gravatas; todas as mulheres vestiam saia; o pastor Marcos Pereira não permite que elas vistam calça no serviço religioso.
Pereira, um homem robusto de meia-idade com olhar penetrante, é o mais conhecido e mais controverso salvador de almas do Rio. E ele é considerado uma lenda nas favelas: "Eu salvei centenas de meninos da tortura e morte", ele se gaba. Os moradores freqüentemente o chamam para mediar disputas entre gangues rivais das drogas. Mesmo o mais durão entra na linha quando o pastor aparece.
Os serviços religiosos de Pereira são verdadeiros espetáculos, megaeventos exibindo atos milagrosos de cura e exorcismo. Um após o outro, os membros de seu rebanho entram em transe. O pastor olha brevemente seus fiéis nos olhos, pressiona sua mão em suas testas e os "possessos" caem no chão. "Desapareça, demônio!" berra Pereira enquanto anda empertigado ao redor das vítimas, que se encolhem e gemem, com um dervixe rodopiante. Estalando seus dedos, ele as tira de seus transes após poucos minutos. Mesmo as pernas de estranhos ficam bambas quando Pereira lhes volta seu olhar. O homem tem poderes hipnóticos.
Antes de o pastor descobrir sua "vocação espiritual", ele servia mesas em Copacabana. "Eu bebia e freqüentava casas de prostituição", disse Pereira. "Minha vida era uma bagunça." Sua "iluminação espiritual" ocorreu em um ônibus; logo depois ele se juntou a uma igreja evangélica. A notícia de seu talento como hipnotista logo se espalhou. Atualmente seus serviços atraem até mesmo políticos e celebridades.
Os esforços de Pereira lhe renderam inúmeras "doações" e ele reuniu uma imensa fortuna. Agora o pastor milagroso está buscando se expandir para o exterior. Ele viajou recentemente à Europa e também fez avanços nos Estados Unidos. "Muito trabalho me aguarda no Primeiro Mundo", ele disse com uma piscadela nada cristã. "Afinal, há demônios em toda parte."
reportagem publicada na revista alemã Der Spiegel
2 comentários:
"Muito trabalho me aguarda no Primeiro Mundo", ele disse com uma piscadela nada cristã. "Afinal, há demônios em toda parte."
Para esses o Senhor já diz em sua Palavra: "Não o conheço"!
Psiuuuu! O que é isso! Eh pura decadencia e sinais que a religião evangélica no Brasil esta sucumbindo cada vez mais ao poder e a grana, como os idos passados da religião católica. Infelizmente, muitos caem nesta roda de "desclarecedores"... Penso que tem que haver um renovo do Espírito não no meio evangélico, mas fora deste, porque tem muita coisa podre neste reino que não é a da Dinamarca.
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