14.3.07

Nota zero (1)

Os dois obituários reproduzidos abaixo fazem parte da seção "Datas" da revista Veja (edição 1999, de 14/3/2007) e foram muito bem pinçadas pelo blog Diário Gauche, que também comentou o assunto. Na verdade, as duas notinhas são auto-explicativas e demonstram que quando todo mundo acha que não dá para o semanário da Editora Abril piorar, o pessoal da Veja se supera e revela que não há limites para o rebaixamento do jornalismo à propaganda ideológica de quinta categoria.

Nem se a revista fosse editada pela célebre (e decadente) TFP – Tradição, Família e Propriedade – o obituário de dom Ivo Lorscheiter teria sido escrito de forma tão preconceituosa e desrespeitosa. Quanto a Jean Baudrillard, os redatores de Veja parecem ter aderido ao culto da ignorância que adoram apontar no governo Lula. Ou talvez não tenham mesmo entendido o que o filósofo escreveu...

Eis a íntegra das barbaridades de Veja.

Morreram

** dom Ivo Lorscheiter, bispo de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Durante o regime militar, à frente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ele denunciou as torturas e os assassinatos de esquerdistas nos porões dos quartéis. Lorscheiter foi um dos principais defensores da Teologia da Libertação, uma excrescência saída da cabeça de padres ideólogos latino-americanos que tentava conciliar cristianismo e marxismo. O suporte à Teologia da Libertação lhe valeu uma admoestação do papa João Paulo II, que o alertou, na qualidade de presidente da CNBB, para os riscos da politização do Evangelho. O bispo também apoiou a criação de bandos armados que, a pretexto de lutar pela reforma agrária, deram origem ao MST. Dia 5, aos 79 anos, de falência de múltiplos órgãos, em Santa Maria.

** o ensaísta francês Jean Baudrillard . Sociólogo de formação, ele ganhou fama escrevendo textos obscuros, muito populares nos cursos de semiologia. Baudrillard fazia arrepiar de entusiasmo o pessoal da pós-graduação, com seu papo-cabeça sobre a "virtualidade" do mundo contemporâneo . Dizia, por exemplo, que a Guerra do Golfo "não existiu". A trilogia cinematográfica Matrix faz menção a suas idéias. Talvez ele tenha sido mesmo um bom autor de ficção científica. Dia 6, aos 77 anos, de câncer, em Paris.

Luiz Antonio Magalhães , no Observatório da Imprensa.

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