14.4.07

Embarque pelo lado esquerdo do trem

Recebi a seguinte carta abaixo; logo depois está minha resposta:

Pastor, queria saber mais sobre um monte de fofoca que venho ouvindo a seu respeito. O senhor embarcou numa nova heresia? O que está acontecendo? Que desapontamento! Você era um dos meus últimos referenciais.

Querido,

Por causa do espanto de alguns e por causa das pressões, já estive com a impressão que enlouqueci e que tornei-me um estorvo para a caminhada da igreja.

Alguns reagem aos meus posicionamentos, aconselhando-me com frases bem piedosas do tipo:

"Por favor, pastor, não saia do Espírito".
"Vamos voltar ao princípio da nossa fé".
"Quer dizer que Deus não opera mais?".
"Estou com saudade do tempo em que a gente era do poder".

Essas frases apenas me entristecem. Lamento que, muitas vezes, na nossa caminhada de fé, nos mostremos tímidos em apenas levar às últimas consequências aquilo que um dia já afirmamos sobre Deus, sobre nossa condição de filhos queridos e sobre a graça que é derramada sobre justos e injustos.

Não pretendo bater uma nova estaca, mas preciso que você me ouça desapaixonadamente. Não se deixe impressionar por críticas de segmentos calvinistas e fundamentalistas. Sou pastor de uma igreja que não é, e também nunca foi, calvinista em sua elaboração teológica.

Lógico que os calvinistas bufam de ódio com o que venho afirmando. Eu nego as bases de sustentação deles. Porém, estou convicto de que não criei nada novo e nem abracei nada exótico.

1. Por anos, preguei que Deus não tem um plano para sua vida e sim um propósito. Os mais antigos devem lembrar que repeti esse sermão em retiros, em encontros de casais, como fez parte de vários sermões públicos. Ora, se Deus não tem plano, isso significa que a história de cada um está em aberto. Eu jamais quis re-conceituar o ser de Deus em minhas últimas conjecturas, estou apenas tentando aprender a lidar com o tempo, com a história e com o futuro.

Se Deus tem um plano ele tem um trilho para a gente andar em cima, a vida se restringe a acertar com o alvo ou nunca sair desse trilho. Acredito e sempre acreditei que Deus tem um "kit-coerência" para que façamos nossa vida valer. Esse "kit" é composto de verdades, princípios e valores com os quais cada um vai escrevendo sua história. Você se lembra do meu livro: Artesãos de uma nova história? No título já deixei claro que a história é uma construção humana e não divina - até porque se fosse divina, não existiriam pedófilos, favelas e nem o Bush.

2. Nunca acreditei e jamais pude defender, em qualquer tempo de meu ministério, que Deus daria vaga no estacionamento do shopping, ou uma cura maravilhosa a um filho que juntou um monte de gente para orar por ele, para ao mesmo tempo, fechou os olhos para o holocausto de Aushwitz ou para a carnificina de Ruanda. Acredito em intervenções divinas, mas não acredito que Deus esteja mexendo o tempo inteiro no decorrer da vida. O mundo viraria um caos com constantes mexidas nas leis da física e nas engrenagens que possibilitam a nossa existência. Se, e quando, acontece um milagre, ele é uma interferência raríssima de Deus na história e não tem nada a ver com nossa capacidade de "cutucar" Deus de um jeito que o fez agir misericordiosamente.

3. Não recordo em nenhum momento do meu ministério que advoguei que o futuro estivesse já pronto ou que tudo o que acontece obedece necessariamente um designio eterno. Se acreditasse assim, eu teria que dizer que Deus esteve por detrás do estupro de uma missionária da Sepal que depois de seviciada, foi morta por bandidos. E que a morte do Ângelo, rapaz de nossa igreja daqui de São Paulo, aconteceu porque Deus queria levar seu filho.

Acredito que a morte de milhões de crianças são um acinte à Deus e que ele chora porque fazemos tolice com a responsabilidade que dele recebemos para cultivar este mundo como um jardim.

Em suma, não proponho nada novo. Não existe teologia nova no pedaço.

Por último, leio alguns pensadores daqui da América Latina, dos Estados Unidos e da Europa e digo:

- Ufa! Tem gente trabalhando com coisas parecidas (A Mensagem Secreta de Jesus, por exemplo. Por favor leiam esse livro!) e com muito mais profundidade e coragem que nós.

Tenho certeza que não estou no caminho do erro, da heresia imbecil ou da apostasia vaidosa. Estou apaixonadíssimo por Jesus de Nazaré.

Abraços, Ricardo.

texto publicado no site de Ricardo Gondim.

Um comentário:

Anônimo disse...

RG é um EGÓLATRA

Blog Widget by LinkWithin