Talvez só a numerologia ou Paulo Coelho possam explicar, mas é muito estranha e misteriosa essa preferência dos corruptos brasileiros pelo cabalístico número 30. Nem mesmo os valores distorcidos pela inflação e por nossas diversas moedas impediram o 30 de ser o padrão de referência da corrupção nacional. Os 30 mil do ex-ministro Magri, por exemplo, eram em dólares.
Talvez uma das origens desse fetiche esteja no upgrade de 30% que PC Farias promoveu na comissão oficial, com o célebre argumento de que os tradicionais 10% eram para garçons.
Quando Roberto Jefferson detonou o mensalão, lá estava a cifra mágica de novo: os mensaleiros embolsavam R$ 30 mil para servir à causa.
Talvez corruptos evangélicos ou católicos procurem nos 30 dinheiros de Judas uma base histórica, mas a tabela para alta traição não vale para baixa ladroagem.
No processo contra Diogo Mainardi, a indenização por danos causados à honra de Franklin Martins foi fixada pelo juiz em R$ 30 mil.
Finalmente, a mesada do bingão para magistrados, delegados e políticos foi estimada pela Polícia Federal em cerca de ... adivinhem.
É uma grana que seria uma carta de alforria para a maioria absoluta dos trabalhadores brasileiros. Mas, em termos de ambição criminosa, eles são medíocres, de quinta, de 30, se comparados com seus colegas internacionais -continuam a receber gorjeta.
O anarco-síndico Tim Maia criou uma expressão perfeita para designar essa mediocridade nacional, um código para reclamar de alguma coisa que não estava funcionando: "Este som está totalmente quatro-quatro-meia" significava que a sua nota nem chegava a cinco, isto é, era pior do que mais ou menos.
Pois é, no Brasil, até os corruptos são "quatro-quatro-meia".
Nelson Motta, na Folha de S.Paulo.
29.4.07
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