A conversão nas igrejas evangélicas é sintetizada no "nascer de novo" (deixar a vida anterior), frase ao gosto de pastores em programas de TV. "Isso tem apelo incrível sobre presidiário, prostituta, quem vive em área devastada", diz Mariano.
A avenida do M'Boi Mirim, na altura do Jardim Ângela (região sul de São Paulo), num sábado à tarde, mostra o "distintivo". São casais de negros e de nordestinos vestidos com sobriedade modesta, Bíblias em capas de couro preto nas mãos. Sem decote ou barriga de fora. Dependendo da igreja, pouca maquiagem e pintura de cabelo até podem. Evangélico fumando é raro. Idem para a bebida.
Como grupo minoritário, ainda mais dividido em centenas de igrejas diferentes (diz-se que há mais de mil só na capital paulista), cada uma com sua própria hierarquia, os evangélicos acabam tendo um controle mais eficaz sobre seus adeptos.
O filósofo Roberto Romano, da Universidade Estadual de Campinas, cita diferença capital entre evangélico e católico: enquanto este faz a "confissão auricular" ao pé do ouvido do padre (e só dele), aquele faz a confissão pública, consubstanciada no "testemunho de fé".
O resultado é que os evangélicos ficam cientes de que o sujeito A sofre com alcoolismo, o B bate na mulher, o C é ladrão. A comunidade ajuda a controlar o comportamento desviante, envolve-se na "salvação" e ainda oferece rede de sociabilidade a quem a perdeu. Depois, o testemunho de conversão reforça a fé de todos na oferta mágico-religiosa da igreja.
"O protestante é o monge interiorizado. Enquanto o monge católico é apartado do mundo e submetido pela ordem religiosa a uma vida regrada, para os protestantes (até os evangélicos pentecostais), o monge não está separado do mundo, está na cabeça do fiel", diz Romano.
As diferenças espalham-se pela organização burocrática e pela arquitetura das religiões. "Por que a entrada de muitas igrejas têm escadarias? É para evidenciar a hierarquia cósmica, elevando-se do rés-do-chão, onde fica o povo, em direção à pureza do clero e de Deus." De seu lado, o templo evangélico (a maioria) apresenta-se ao rés-do-chão. "São iguais falando para iguais e todos com igual acesso a Deus", diz Romano.
Placas afixadas na sacristia das igrejas avisam os horários das missas. Igrejas fecham suas portas, e padres tiram folgas (a maioria na segunda-feira). Já as igrejas evangélicas estão sempre abertas; há obreiros na calçada e no templo, convidando a entrar. Se o pastor tira folga, há pastores auxiliares.
Nas igrejas evangélicas, não se vê mendicância. O deputado federal Geraldo Tenuta (DEM-SP), da bancada evangélica na Câmara e membro da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, diz: "Somos contra assistencialismo. A gente ensina a pescar".
fonte: Folha de S.Paulo
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