Descolar um emprego será a mais central de suas preocupações, se você está saindo da adolescência e se preparando para entrar na idade adulta. Sendo assim, acho que é hora de você ficar sabendo que seus pais, o sistema escolar e a sociedade educaram você para um mundo que acabou. Pelo menos é assim que acontece na maioria dos casos.
No futuro, as oportunidades de emprego - tal como seus pais e seus avós entendiam o exercício da vida produtiva - serão cada vez mais restritas. Não acredite que exista algum "espetáculo de crescimento" de empregos produzidos por pacotes ou programas governamentais. Nem qualquer outra mirabolância engendrada por políticos e técnicos, sejam eles neoliberais, neopopulistas, de esquerda, direita ou centro. Nada nem ninguém tem o dom de materializar, como em um passe de mágica, os milhões de empregos necessários para os que estão entrando na idade adulta.
Pior do que isso, o emprego tal como aprendemos a reconhecê-lo, como "o" vínculo de trabalho dominante ao longo do século XX, está com os dias contados. Não adianta correr para fazer concurso público para resolver seus problemas. Se você tem 20 anos, não compensa acreditar no sonho da estabilidade do emprego público. Pois até isso vai ter de mudar.
O desemprego entre os jovens não é um problema só no Brasil. É mundial. As taxas de desemprego entre os que têm menos de 26 anos são até quatro vezes mais altas que entre aqueles com mais de 40 anos, em alguns países. E não há culpados pela situação.
Como frisa José Pastore, pesquisador da Universidade de São Paulo e profundo conhecedor das relações de trabalho, foi-se o tempo em que trabalhar era ser empregador ou empregado. Os vínculos entre organizações e pessoas, lembra ele, serão cada vez mais multiformes e fluidos. Prepare-se para ter mais projetos que trabalhos de carteira assinada. Na verdade, um portfólio de múltiplos projetos de diferentes formatos: aqueles que vão durar alguns meses, outros que correm em paralelo, aqueles que serão feitos no fim de semana, outros com parceiros a distância.
Cabe a você desprogramar o sistema operacional mental que a sociedade colocou em sua cabeça. Você não pode virar um "procurador de emprego". Seus filhos vão rir e achar que o "emprego" da época dos avós era quase uma escravidão. Procure identificar o que mais lhe dá realização como atividade produtiva. Como diz o velho ditado: "Descubra o que você gosta de fazer e nunca mais vai ter de trabalhar". Procure entender que a educação de agora em diante é uma necessidade permanente e continuada em sua vida, indo até mesmo à velhice.
A riqueza ao longo do século XX foi criada por pioneiros que estiveram ligados ao petróleo, à mineração, à siderurgia, a megaprojetos industriais, banqueiros capitalistas etc. Já a riqueza e os impérios da Sociedade Digital Global, as sociedades do conhecimento, serão realizações de pequenas populações de visionários criativos, como Bill Gates, criador da Microsoft, Steve Jobs, da Apple, os criadores do Google e J.K. Rowlings, autora de Harry Potter.
Você tem a sorte de ser jovem em um tempo no qual serão exatamente eles o dínamo de uma transição fabulosa da história da humanidade. Sendo assim, faça de tal forma que, quando chegar à faixa dos 50 anos, você possa olhar para trás e ter mais que um simples currículo para mostrar. Que você tenha uma grande e apaixonante história para contar de seus primeiros 30 anos da idade adulta.
Ricardo Neves, na revista Época.
14.5.07
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Um comentário:
Um abraço pra ti, querido Pava.
Para colaborar com o tema, segue uma reflexão de Fran Christy sobre
Empregabilidade: A sua carreira está em suas mãos.
Ou você cuida “pessoalmente” de sua própria carreira ou sua empregabilidade está em jogo. O que observamos entretanto é justamente o contrário, pessoas se apegando a empregos como faziam nossos avós.
Este assunto não é novidade, no entanto, o que vejo com frequência são pessoas inseguras quanto às próprias habilidades profissionais apegando-se a empregos aparentemente seguros, empurrando a vida pessoal e profissional com a barriga, com medo de arriscar, sem vontade real de crescer.
Contra-argumentos não faltam, a vida é difícil, a taxa de desemprego altíssima, a situação do país não é a ideal para sair arriscando movimentos profissionais corajosos, etc. Por outro lado, ouvimos com frequência estórias de sucesso, de pessoas que ousaram, arriscaram e venceram. Será que a vida pega mais leve com estas pessoas? Provavelmente não, e você sabe disso. O que o impede então de tomar uma atitude e rumar em direção aos seus sonhos profissionais?
Moro em Seattle, EUA e por aqui a situação não é diferente. Brasileiros reclamando da situação do país geralmente argumentam que se estivessem aqui, sua situação seria diferente (será por isso que eles vêm e acabam fritando hamburger no MacDonalds?). O fato é que os fatores externos, governo, economia, família, etc, jamais serão a solução para problemas de origem interna: falta de coragem, foco e determinação. Para cada vencedor Americano, há uma legião de perdedores que acham que ele teve sorte ou foi apadrinhado – não muito diferente do que ocorre no Brasil.
O conceito de “empregabilidade” há muito tempo deixou de estar relacionado com a capacidade de manter-se num emprego, ou mesmo de ser “empregável”. Pessoas com alto nível de empregabilidade são donas da própria carreira, e não raro passam para o outro lado, tornando-se empreendedores em algum ponto. Elas são, em primeiro lugar, empreendedoras da própria vida e não meros expectadores que vivem na eterna ansiedade de uma possível demissão.
Este profissional é disputado pelas melhores empresas em seu mercado e valorizado como ouro. Não é o que ele sabe a mais, não é o que faz a mais, é sua atitude próativa que o torna singular. Este profissional faz a diferença enquanto todos os outros só fazem o seu trabalho. De qual grupo você faz parte?
Fran Christy - Formada em administração, com especialização em marketing e planejamento estratégico.
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