27.6.07

Crianças enjauladas (4)

Eram também cinco “garotos normais”, um deles menor, de classe média como os cariocas que espancaram Sirlei, os que atearam fogo no índio Galdino Jesus dos Santos, 44 anos, quando dormia no ponto de ônibus de uma praça em Brasília, na madrugada de 20 de abril de 1997.
Noventa e cinco por cento da superfície do seu corpo ficou queimada. Ele morreu na manhã seguinte, não sem antes perguntar: "Por que fizeram isso comigo?"

Para se divertir, diriam ao ser presos. Depois do divertimento, foram para casa dormir. Uma testemunha os viu, anotou a chapa do carro deles e chamou a polícia. Agora, foi a mesma coisa.
Os “normais” do Rio bateram em Sirlei porque acharam que ela era prostituta. Os de Brasília incineraram Galdino porque acharam que ele era mendigo.

A mídia já podia especular sobre o que acontecerá com os cinco de Sirlei. Dos cinco de Galdino, um – o menor – não chegou a ser preso. Os outros quatro, Tomás Oliveira de Almeida, Eron Chaves Oliveira, Max Rogério Alves e Antonio Novely Cardoso, desfrutam de liberdade condicional desde 2004.

Antes, os assassinos puderam trabalhar e estudar fora do presídio – uma ilegalidade, porque haviam sido condenados a prisão em regime fechado.

Puderam trabalhar, estudar – e cair na noite, conforme os jornais noticiavam de vez em quando.

Será de cair o queixo se a história não se repetir.

trecho de Os 5 de Sirlei e os 5 de Galdino, texto de Luiz Weis no Observatório da Imprensa.

3 comentários:

Anônimo disse...

A impunidade é o propulsor da marginalidade!

Anônimo disse...

Ontem fui dormir tarde, pensando nessa barbárie. E acordei bem cedo, tinha muitas atividades fora de casa e só agora chego no meu canto e respiro. Confesso: minha vontade é fazer valer a Lei, literalmente. Não essa lei estúpida, ridícula, ineficaz, que só prende pretos e pobres e deixa os branquinhos ricos, criminosos também, à solta. Falo da Lei: olho por olho, dente por dente. Já imaginei esses caras apanhando, a família dele e, confesso, cheguei a ligar para os números e disse a quem atendeu uns bons desaforos. Mas volto è realidade: não é assim. Não suporto mais ver tanta maldade, tanta injustiça, tanta impunidade, de todos os lados, em todos os lugares, em qualquer classe social, entre jovens, adultos, idosos, não importa o grau de escolaridade. Não sou Che Guevara, nem Madre Teresa de Calcutá, mas aqui, no meu lugarzinho, tento contribuitr e lutar por justiça. E vejo, aqui também, impunidade, corrupção, desonestidade, maldade, injustiça. Minha vontade é jogar a toalha, como se diz, e viver no meu mundinho classe média, indo ao cinema, vendo filmes em DVD, comendo em restaurantes bons, comprando roupinhas, livros e fazendo tanta coisa mais como vejo a maioria fazer, como se o resto do mundo não existisse.
Mas aí me vem a terrível consciência, que Deus me deu, e da qual não posso fugir. Porque se dela fujo essa outra que vou construir não vai ser mais eu, mas um blefe, uma mentira, uma eterna angustiada vendo meninos pedindo moedas nos sinais de trânsito, vendo os poderosos esmagarem os fracos, vendo o roubo, a estupidez e calando.
Mas às vezes, de tardezinha, deito em minha cama e choro, abraço meu travesseiro e desabo. Quanto mais se luta por justiça, mais se multiplicam as miséria humanas. Também eu tenho meus pecados, sou imperfeita, erro muito, sim. Mas prefiro errar gritando, gritando, brigando por justiça, do que acertar palidamente numa vida cega, esperando a morte chegar.

Anônimo disse...

boa reportagem sobre o perfil e os hábitos desses bandidos.
http://odia.terra.com.br/rio/htm/geral_106885.asp

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