25.6.07

Manicure, o cliente

"Quando uma ovelha vai na frente todas as outras a acompanham."
Máxima

O sétimo mandamento do marketing, segundo Peter Drucker, diz que: "O Cliente não é quem compra, é quem toma a decisão de comprar". E, óbvio, como não poderia deixar de ser, o saudoso mestre está absolutamente certo.

Alunos obedientes e com dinheiro, ou contando com o dinheiro dos pais, compram livros. O dinheiro é deles ou dos pais, e quem vai usar aqueles livros são os próprios alunos. Mas quem decidiu "adotá-los" e especificar como livro do curso, foram os professores, e assim, e conforme ensina o mestre, o cliente das editoras dos livros escolares é o professor.

O mesmo acontece no negócio dos remédios, onde o paciente somos nós, e o cliente da indústria farmacêutica são os médicos; no território de autopeças, onde os proprietários e usuários dos automóveis somos nós, onde quem paga os consertos continuamos sendo nós, mesmos, mas quem decide e escolhe por nós as peças que vai colocar embaixo do capô, e do piso, no motor, na transmissão, no breque, na embreagem de nossos carros, é o mecânico. E assim o cliente da indústria de autopeças é o mecânico e não nós.

E mais recentemente, no território da beleza, as indústrias a cada dia que passa valorizam a figura do profissional. Matéria publicada no jornal Valor, assinada por Daniele Madureira, fotografa e autentica essa realidade: a importância decisiva, vital, definitiva, das manicures, nas compras e uso do esmalte. No entendimento dos principais fabricantes, as manicures são responsáveis diretas – pelo que compram e usam –, e principalmente de forma indireta – pelo que recomendam –, por mais de 70% de toda a compra de esmaltes que ocorre em nosso País.

Já as métricas do Nielsen concentram em três fabricantes, ano base 2006, 68% da quantidade total de esmaltes vendidos no varejo, e 75% do total faturado com o produto nesse canal. E em todos os três, a manifestação ostensiva de apreço e paparicação ao seu verdadeiro cliente, as manicures.

Enquanto a líder do mercado, Niasi, coloca seu batalhão de promotoras todos os meses nas ruas para visitar, de forma especial, os 2 mil salões de beleza mais centrais das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, a L’Oréal escala algumas de suas químicas para visitas regulares aos mesmos salões, como ferramenta de Inteligência Competitiva, no sentido de identificarem tendências, e se qualificarem para eficazes insights.

Já a Impala, que disputa o território palmo a palmo com Niasi e L'Oréal, promove segunda sim, segunda também, o Clube da Manicure nas instalações de sua sede na cidade de São Paulo, recebendo na empresa – Brand Experience – 30 especialistas em pés e mãos para participar de workshops, conhecer os processos de fabricação e últimas novidades, e receber presentes e amostras.

Isso posto, sempre vale a pena lembrar o sétimo mandamento do querido e saudoso mestre. Ainda hoje muitas empresas continuam dirigindo a maior parte de sua energia, inteligência e investimentos promocionais para o público aparentemente certo, porque compra e usa, mas absolutamente errado, porque não é quem decide.

Francisco Madia, no jornal Propaganda & Marketing.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu gosto desses textos sobre marketing... ô, fala sério... Evidenciam tanto a ideologia vigente que não seria necessário postar, aqui, nenhum comentário. Contudo, vou "polifonizar" meu discurso (M. Bakhtine)e comentar, sim, mas por meio de Carlos Drummond de Andrade e Umberto Eco.

Eu, Etiqueta

(Carlos Drummond de Andrade)

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou — vê lá — anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrina me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.

O corpo. Rio de Janeiro: Record, 1984, pp. 85-87

Em tempo: "Se invece l'oggetto della semiotica è divantata l'Origine di ogni comunicazione, e questa Origine non può essere analizzata ma sta sempre 'dietro' o al di qua de discorsi che si fanno su di essa, allora la prima domanda che una semiotica di questo tipo deve porsi è: CHI PARLA?
Non si vuole qui negare che questa domanda sia legittima. Vorremo anzi dire che nel porla si aprono onteressanti e apassionanti orizzonti filosofici. Ma a questo punto, proprio perché questa domanda è la domanda che constituisce da secoli un ben preciso tipo di filosofia, dobbiamo anche avere il coraggio de individuare l'ideologia che vi si sottende, anche quando chi fa la domanda pensa di domandare per altre ragioni. Individuare questa ideologia è fare opera di semiotica. Per farlo bisogna credere che la semiotica sia possibile. Credere che la semiotica sia possibilie implica a sua volta un'altra ideologia."

Umberto Eco
La Struttura Assente - La ricerca semiotica e il metodo strutturale
Saggi Tascabili, Milano, 1996.
Prefazione (XXIV-XXV)

Blog Widget by LinkWithin