12.6.07

É preciso saber viver

Aceitar e rejeitar sempre foram dois verbos difíceis para mim. Minha mãe me ensinou a não aceitar favores de estranhos, eles poderiam ser maus; depois, aprendi a não rejeitar a mão estendida dos amigos, eles poderiam expressar os favores divinos; assim continuo sem discernir em quais momentos devo acolher ou recusar.

Antes preciso dizer que já aceito caminhar de mãos dadas com gente que valorize relacionamento além da reputação, lealdade acima das censuras sociais; aceito o olhar ingênuo do amigo que nada exige e nada promete senão sua companhia.

Também preciso esclarecer que rejeito sentar na mesa do presunçoso, daquele que evita entrar em contato com sua própria alma. Reconheço minha inabilidade em perceber esquemas maldosos, portanto, fugirei dos sagazes.

Por último, não quero me forçar a nada; abandonei o desejo de fazer adeptos, seguidores ou discípulos. Desejo oferecer, tão somente, minha débil consciência, meus parcos conhecimentos e minhas sofrida percepção do divino. Os que aceitarem não precisam dar qualquer retorno para mim – até porque presenteio o que tenho e o que sou por razões egoístas. Preciso vazar o que considero precioso e que se acumula dentro do meu peito. Quem não gostar, ou não aceitar, e se sente importunado com minhas inquietações, basta descer a calçada e caminhar para a do lado oposto, assim não seremos obrigados a nos ver cara a cara.

Por mais que tente, continuo claudicante; não consigo resolver enigmas, resolver meus paradoxos para encerrar os capítulos de minha história. Sei que sou um homem maduro, mas reconheço que minha maturidade não condiz com a minha idade.

Lamento! Mas é essa a minha cruel constatação depois de tudo o que li, tudo o que estudei e tudo o que já orei. Permaneço um esboço numa prancheta, uma massa sem levedo, um ninho abandonado, uma sutura mal cicatrizada.

Nessa confusão mental, nesse turbilhão espiritual e nessa sofrida maratona, busco coragem para optar pelo sim ou pelo não.

Contudo, aceito sorrisos francos, abraços despretensiosos, mensagens redigidas com gramática ruim, bolos assados com carinho e telefonemas rapidinhos, só para saberem como estou.

Rejeito amizades gasosas, textos canônicos, santos gabolas, sermões irretocáveis, certezas sobre a maldade alheia; enfim, hipérboles religiosas.

Aceito fragilidades inconfessadas, discórdias leais, críticas honestas, ignorâncias sensatas, racionalidades humildes.

Rejeito pedantismo acadêmico, erudição efetada, linguajar hermético, sabedoria presumida e preconceitos intelectuais.

Um dia ainda aprenderei a ser gente grande, por enquanto quero aprender a viver. E isso me basta.

Soli Deo Gloria.

"Eu aceito, eu rejeito", texto de Ricardo Gondim

3 comentários:

Anônimo disse...

Idem, Ibidem, querido pastor.

Soli Deo Gloria.

Anônimo disse...

Enviei um comentário mais cedo, mas ele não foi postado até agora.
Concordo com o teor das palavras do pastor Ricardo. Gosto muito do que ele escreve. O que me parece é que ele está cansado com tanta coisa desse mundo... Eu também.
Como diz Paulo, a morte é lucro. Digo isso sem nenuma hipocrisia, penso que viver é bom, sim, mas estar com Deus é infinitamente melhor. Haverá o dia em que Deus me levará. E eu vou voar...

Soli Deo Gloria.

luciana disse...

Puxa! que texto gostoso, leve e por isso bonito!
Tudo que é sincero, autêntico e honesto tem seu encanto sua magia.
Somos seres humanos! Por enquanto só seres-humanos...Deus nos ama com tudo que somos e isso nos trânquiliza, tráz paz, muita paz.
A sensação de não ter que provar nada a ninguém é fundamental pra se ter uma vida abundante.



Um texto desse nesta noite cansada é tudo que eu precisava ler.

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