Aloísio Falcão um dia pegou um táxi para ir para casa, num bairro qualquer, com pequena possibilidade do motorista conseguir um passageiro para retornar. Após ficar sabendo o destino, o motorista iniciou uma verdadeira enxurrada de reclamações contra tudo e contra todos, juntando num mesmo saco o governo, os padres, o povo brasileiro em geral e os fregueses de táxi em particular. Uma conspiração cósmica contra a laboriosa classe dos taxistas, como parece ser a crença fundamental desses profissionais.
Já tinham andando uns cinco quarteirões quando o Aloísio perdeu a paciência: "Olha aqui, meu amigo, você acha que só você tem problemas na vida? Só você ganha pouco e trabalha feito um animal? Você acha que a esta hora da noite, louco para ir dormir, cansado pra burro, cheio de coisas na cabeça, eu tenho mesmo obrigação de ficar te ouvindo? Porra, cara, eu sou mais fo%$*o que você, tá sabendo?".
Ao que o motorista pergunta: "E o que o amigo faz na vida?" A resposta foi seca e com alguma raiva: "Sou publicitário!" Para total espanto do Aloísio, o motorista responde: "Então está certo, o senhor realmente é um fo%$*o".
Fez-se um enorme silêncio espantado, até que o motorista explica: "Tenho muita pena do senhor e de seus colegas. Quantas vezes no Jabaquara, onde moro, acordo de madrugada, num frio de rachar, eu, no quentinho aqui do carro, vejo vocês trepados nas escadas, colando aqueles cartazes... muitas vezes já me consolei da minha vida observando o trabalho de vocês".
Aloísio se afundou no banco, pensando que realmente a vida é muito injusta com as pessoas. E, estranhamente, teve dó de si mesmo. Não só por colar cartazes de madrugada, se é que me entendem.
trecho de Corrida noturna, texto de Lula Vieira no jornal Propaganda & Marketing.
11.6.07
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