5.7.07

Estupidez ilimitada

Está com medo de tornar-se doméstica ou prostituta? Bata em pobres, índios e putas

Em poucas linhas, na Folha de sexta, dia 29 de junho, Eliane Cantanhêde descreveu perfeitamente o mundo no qual é possível que rapazes de classe média queimem um índio pensando que é "só um mendigo" ou espanquem uma mulher pensando que é "só uma prostituta". Provavelmente, não teria sido muito diferente se eles tivessem pensado que era só uma empregada doméstica.

É um mundo em que a permissividade é o melhor remédio contra a inevitável insegurança social. Nesse mundo, os pais fazem qualquer coisa para que seus rebentos acreditem gozar de um privilégio absoluto; esse é o jeito que os adultos encontram para acalmar sua própria insegurança, para se convencer de que eles mesmos gozam de privilégios garantidos e incontestáveis. Como escreveu Maria Rita Kehl no Mais! de domingo passado, nesse mundo, aos inseguros não basta ser cliente, é preciso que eles sejam clientes especiais.

Uma classe média insegura é o reservatório em que os fascismos sempre procuraram seus canalhas. Você está com medo de perder seu lugar e, de um dia para o outro, tornar-se índio, mendigo ou empregada doméstica? Pois é, pode bater neles e encontrará assim a confortável certeza de seu status. Aos inseguros em seu desejo sexual, aos mais apavorados com a idéia de sua impotência ou de sua "bichice", é proposto um remédio análogo. Você provará ser "macho" batendo em "veados" e prostitutas.

Há mais um detalhe: a inteligência humana tem limites, a estupidez não tem. Essa diferença aparece sobretudo no comportamento de grupo. Imaginemos que a gente possa dar um valor numérico à inteligência e à estupidez. E suponhamos que o valor médio seja dois. Pois bem, três sujeitos mediamente inteligentes, uma vez agrupados, terão inteligência seis. Com a estupidez, a coisa não funciona assim: a estupidez cresce exponencialmente. A soma de três estúpidos não é estupidez seis, mas estupidez oito (dois vezes dois, vezes dois). Quatro estúpidos: estupidez 16. Cinco: estupidez 32.

Curiosamente, essa regra vale até chegar, mais ou menos, a um grupo de dez. Aí a coisa tranca: a partir de dez, torna-se mais provável que haja alguém para discordar da boçalidade ambiente. Não porque, entre dez, haveria necessariamente um herói ou um sábio, mas porque, num grupo de dez, quem se opõe conta com a séria possibilidade de que, no grupo, haja ao menos um outro para se opor junto com ele.

Esse funcionamento, por sua vez, decai quando o grupo se torna massa. É difícil dizer a partir de quantos membros isso acontece, mas não é preciso que sejam muitos: um grupo de linchamento, por exemplo, pode desenvolver toda sua estupidez coletiva com 20 ou 30 membros.

Em alguns Estados dos EUA, é permitido dirigir a partir dos 16 anos. Mas, em muitos condados desses Estados, vige uma lei pela qual um jovem, até aos 21 anos, só pode dirigir se houver um adulto no carro. Pouco importa que esse adulto seja habilitado a se servir de um carro. O problema não é a perícia do motorista, mas o fato estatístico de que três, quatro ou cinco jovens num mesmo carro constituem um perigo para eles mesmos e para os outros: o grupo de "amigos" potencializa a estupidez de cada um, muito mais do que sua inteligência. Talvez seja por isso, aliás, que, para o legislador, a formação de quadrilha é um crime em si.

Qualquer pai de adolescente reza ou deveria rezar para que seu filho encontre rapidamente uma namorada e passe a sair na noite com ela, não com a turma dos amigos. Pois a turma é parente da gangue.

Como se sabe, o pai de um dos cinco jovens que, na madrugada do dia 23 de junho, na Barra da Tijuca, espancaram Sirlei Dias de Carvalho Pinto, comentou, defendendo o filho: "Prender, botar preso junto com outros bandidos? Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses?". É o desespero de quem sente seu privilégio ameaçado: como assim, tratar a gente como qualquer um?

Não éramos "clientes especiais"?

Mas as frases revelam também a distância entre o filho que o pai conhece em casa (o filho que teria "caráter") e o filho que se revela na ação do grupinho (esse filho não tem "caráter" algum). O que precede poderia ser entendido como uma atenuante, tipo: eles agiram assim não por serem canalhas, mas por estarem em grupo. Ora, cuidado: o grupo não produz, ele REVELA os canalhas.

Contardo Calligaris, em texto publicado na Folha de S.Paulo.

7 comentários:

Pavarini disse...

05/07/2007 - 07h03
Jovem é preso após atear fogo em prostituta

São Paulo - O desempregado Rafael Máximo Santana, de 24 anos, foi preso, por volta da 0h30 desta quinta-feira, após tentar queimar viva a garota de programa Josete dos Santos Barbosa, de 26 anos, na Rua Ayrton Senna da Silva, no Jardim São José I, em São José dos Campos, a 91 quilômetros da capital paulista, no Vale do Paraíba.


Segundo policiais militares do 46º Batalhão de Policiamento do Interior (BPM/I), que detiveram o acusado na altura do nº 580 da Avenida das Rosas, no Jardim Motorama, o jovem, a pé, abordou a prostituta e, depois de se desentender com ela, jogou álcool sobre a garota e ateou fogo.


Como o álcool não foi jogado com precisão, a garota conseguiu apagar as chamas rapidamente, mas sofreu queimaduras de 1º e 2º graus do joelho para baixo, sendo levada pelos policiais para o pronto-socorro de Vila Industrial. Ao passar as características do acusado aos policiais, a viatura localizou o rapaz, que andava calmamente pelas ruas do bairro vizinho.

Pavarini disse...

Os atores da Rede Globo Rômulo Arantes Neto e Lui Mendes são acusados de terem roubado e agredido uma prostituta, na madrugada de ontem, na zona sul do Rio. Eles podem ser indiciados ainda por exposição a perigo de vida, já que a moça contou que foi jogada do carro por Mendes.

A garota de programa Fabiane Pereira Costa contou, em depoimento à 15.ª Delegacia de Polícia (Gávea), que os atores e um amigo identificado apenas como Carlos a abordaram num bar na Rua Prado Júnior, em Copacabana. Eles também convidaram para o programa dois travestis, que pensavam ser mulheres. O grupo seguiu para o Motel Vips, em São Conrado.

No motel, Arantes, filho do ator Rômulo Arantes (morto em 2000), teria descoberto que havia contratado dois homens. Fabiane disse que Arantes ficou agressivo e dispensou os travestis. O programa foi cancelado. Fabiane pediu para ser deixada em Copacabana, mas os rapazes a teriam agredido. Ela contou que durante o trajeto de volta eles a ameaçaram, até que Mendes a teria empurrado do carro, no bairro do Jardim Botânico. A moça ficou sem a bolsa, onde havia R$ 360. Ferida sem gravidade no quadril, Fabiane foi levada à delegacia por policiais militares, onde prestou queixa. Arantes e Mendes foram intimados a prestar esclarecimento na delegacia.

Em 1995, Mendes interpretou o personagem homossexual Jefferson, na novela A Próxima Vítima. Durante a exibição, ele chegou a ser agredido. Arantes Neto tem 20 anos e interpreta André na novela Malhação. Em nota, a Assessoria de Imprensa do ator afirmou que ele prestará "esclarecimentos à autoridade policial, adiantando que tudo não passa de um mal-entendido".

fonte: O Estado de S. Paulo

luciana disse...

Quanto absurdo!!
Pais que não conhecem seus filhos,
sustentam monstros e verdadeiras feras com cara de playboyzinho, que apavoram as classes menos favorecidas e pessoas vítimas de preconceito, e ainda acham que fazendo o que fazem com essas pessoas diminuem a gravidade.
Essas leis ridículas, permissivas e complacênte, contribuem para chegar onde chegamos.
Pena que o Brasil não é um país mais justo e coerênte, se não seria a favor do "corredor da morte" Simmmmmmmm.

luciana disse...

Comentei com minha irmã a respeito dos acontecidos, e ela me disse: Muitos desses pitboys são criados em condomìnios fechados, e a única pessoa de outra classe que convivem é com a empregada da casa.
Os pais ao invés de criarem uma oportunidade para os filhos respeitarem pessoas de outra classe com o mesmo respeito e educação, muitas das vezes crescem vendo os pais maltratando, desrespeitando e humilhando os empregados da casa de diversas formas. Os filhos crescem achando que realmente são pessoas desmerecedoras de serem tratadas igualmente como ser-humano que são.
Não é de se espantar que criaturas como essas fazem as vezes seus próprios pais de vítimas.

Pavarini disse...

Garota de programa é agredida por jovens no Rio

Rio - Uma prostituta foi espancada na madrugada de ontem na Avenida Atlântica, em Copacabana. A mulher estava perto do hotel Copacabana Palace, na esquina da Atlântica com a Rua Fernando Mendes, e foi abordada por três homens, que a agrediram - a polícia não divulgou o motivo. Ela levou socos no rosto e teve o nariz quebrado.

A prostituta foi levada por policiais militares para o Hospital Rocha Maia, em Botafogo, e, em seguida, deu queixa na 12ª Delegacia Policial, em Copacabana. Não se sabe quem são os agressores, que, segundo policiais, eram jovens e estavam bem vestidos. A mulher foi identificada apenas pelo primeiro nome, Mônica, e teria 27 anos.

fonte: Agência Estado

Ed Valesi disse...

�, a situa�o � absurda ao cubo! Fiz um texto neste tema tamb�m, impactado pela insensatez e estupidez dos rapazes espancadores de "puta".

acessem l� www.superputz.blogspot.com

Anônimo disse...

Hay qué me quedo cansada de todo eso...

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