16.7.07

Eu sei de quase tudo um pouco e quase tudo mal

Uma das características dos tempos que estamos vivendo - dizem que, da pós-modernidade - é o ressurgimento, na área profissional, do generalista, em contraposição ao especialista, cujo prestígio se prolongou ao longo do século passado, até recentemente.

Ajuda a ter esta visão mais claramente, a atividade profissional em propaganda e marketing, já que a propaganda consiste na divulgação de mensagens persuasivas ao público, através dos meios de comunicação; e o marketing, basicamente, na adequação de produtos e serviços às necessidades dos consumidores.

Um bom publicitário deverá ser um bom comunicador, e o especialista em marketing deve bem conhecer as empresas e seus processos produtivos. Mas, se isso é necessário, não é suficiente.

Ambos os profissionais lidam com "consumidores" – que são pessoas – e com os fatores influentes do ambiente externo, que é o mundo. E o mundo contém geografia, história, política, economia, biologia, química, engenharia, arte, arquitetura, música, cinema, teatro, esporte – em uma palavra: cultura. E as pessoas são ainda maiores do que o mundo: cada uma detentora do seu universo interior, que a sociologia, a antropologia e a psicologia tentam abraçar e compreender.

A visão do profissional de P&M tende a abrir esta janela para a árvore do conhecimento e para a noção de que todas as coisas se relacionam.

Na história bíblica, a árvore do conhecimento é representada pela macieira, cujo fruto foi proibido a Adão e Eva, para que não viessem a adquirir a sabedoria sobre o bem e o mal, tornando-se - eles próprios - deuses e competidores de Jeová.

Na lenda grega, sobre a caixa de Pândora (sic), o castigo inflingido a Prometeu também tem a ver com a sua tentativa de levar aos homens o que só os deuses conheciam.

Mais recentemente, a era do iluminismo resultou numa interpretação mais racional do que vem a ser o conhecimento humano: foi a tentativa que o ser humano fez - por ser dotado de razão - do que significava o mundo que o circundava; em uma palavra: a natureza.

Seu olhar para o céu fez com que se interessasse pelos mecanismos celestes - e assim nasceram o cálculo, a geometria, a física, a estatística. Os seres vivos - as plantas e os animais - fizeram nascer a química, a botânica, a medicina. E as relações entre os homens, a sociologia, a antropologia, o direito, a história...

Em outras palavras: os temas, as matérias em que se divide o conhecimento humano não nasceram independentes umas das outras, nem são compartimentos estanques. Na verdade, tudo se relaciona com tudo. O mundo é um só e as várias especialidades são, cada uma, um filtro ou uma rede, que captura sempre apenas uma parte da realidade total.

Não sei se isso é bom ou mau - mas é um fato, que vai influenciar nas escolhas profissionais que os jovens têm, hoje, diante de si; ou os mais velhos, ao contemplar a quase inevitável necessidade de mudanças e de reinvenção de si próprio, para evitar uma obsolescência precoce.

J. Roberto Whitaker Penteado, no jornal Propaganda & Marketing.

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