"Um homem envolto em si mesmo faz um pacote bem pequeno".
John Ruskin
Entre as lembranças mais antigas da minha infância, estava uma adivinhação que minha avó costumava propor: uma caixinha de bom parecer, não há carpinteiro que saiba fazer. A resposta era amendoim. (E o tema deste artigo vem do meu envolvimento na preparação da edição recente da Revista da ESPM, totalmente dedicada a embalagens – que já está nas bancas).
É surpreendente o volume e a freqüência com que ocorrem menções a embalagens de todos os tipos no imaginário da humanidade, em lendas, símbolos e fantasia através de tempos e lugares. A caixa mais famosa da história deve ser a de Pandora, da mitologia grega, que não deveria jamais ser aberta, mas foi – pela curiosidade feminina - liberando todos os males da humanidade, mas mantendo, em seu interior, a Esperança.
A expressão "caixa de surpresas" deve ter a ver com Pandora. E temos a Caixa Econômica, as caixas de recordações em caixas de charutos ou de sapatos, a caixa forte do Tio Patinhas, o baú da felicidade, a canastrinha da Emilia, do Picapau Amarelo - e muitas outras. Embalagens da natureza estimulam a imaginação: o ovo, a bolsa dos cangurus, os casulos das borboletas... Vale lembrar, também, o saco de Papai Noel; a designação de trouxa, para alguém que se deixa "embrulhar" e a grande família dos frascos para embalar perfumes e outras poções mágicas.
Na música – além das delicadas caixas de música - praticamente todos os instrumentos são, na realidade, caixas acústicas para guardar e propagar o som. A modesta caixinha de fósforos serviu para Noel Rosa e Ciro Monteiro comporem sambas – e foi tema de letras irreverentes, como Caixinha, obrigado – de Juca Chaves. Nas artes plásticas, as embalagens estão presentes, desde a pintura acadêmica à impressionista, de Braque a Picasso, nas sopas Campbell de Andy Warhol, nos "embrulhos ambientais" do casal Christo e nas modernas "instalações" que atravancam as bienais.
A safra literária é rica, por exemplo, Fernando Pessoa, neste belíssimo trecho da Tabacaria: Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.
E também em Jorge de Lima, Drummond e Vinicius, ou a mais conhecida, sobre as três mulheres do antigo Sabonete Araxá – que encantaram Manuel Bandeira. Luiz Fernando Veríssimo tem um conto – curto e sombrio - intitulado Caixinha. Um livro da série de Sherlock Holmes chama-se: A Aventura da Caixa de Papelão.
Poderia ter falado de moda - como embalagem da pessoa - mas, aí, o assunto não acabaria nunca... Fica o registro de que, na confecção, existe uma técnica chamada wrapping: envolve-se o manequim com o tecido e "desenha-se com a tesoura".
E finalmente - ainda ligado a moda e roupas - a exibição antiga (há quem encontre suas origens na antiga Babilônia - e está até na Bíblia) denominada striptease, que transformou em prazer visual os atos de embrulhar e desembrulhar...
J. Roberto Whitaker Penteado, no jornal Propaganda & Marketing.
23.7.07
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário