23.7.07

Magia das embalagens

"Um homem envolto em si mesmo faz um pacote bem pequeno".
John Ruskin

Entre as lembranças mais antigas da minha infância, estava uma adivinhação que minha avó costumava propor: uma caixinha de bom parecer, não há carpinteiro que saiba fazer. A resposta era amendoim. (E o tema deste artigo vem do meu envolvimento na preparação da edição recente da Revista da ESPM, totalmente dedicada a embalagens – que já está nas bancas).

É surpreendente o volume e a freqüência com que ocorrem menções a embalagens de todos os tipos no imaginário da humanidade, em lendas, símbolos e fantasia através de tempos e lugares. A caixa mais famosa da história deve ser a de Pandora, da mitologia grega, que não deveria jamais ser aberta, mas foi – pela curiosidade feminina - liberando todos os males da humanidade, mas mantendo, em seu interior, a Esperança.

A expressão "caixa de surpresas" deve ter a ver com Pandora. E temos a Caixa Econômica, as caixas de recordações em caixas de charutos ou de sapatos, a caixa forte do Tio Patinhas, o baú da felicidade, a canastrinha da Emilia, do Picapau Amarelo - e muitas outras. Embalagens da natureza estimulam a imaginação: o ovo, a bolsa dos cangurus, os casulos das borboletas... Vale lembrar, também, o saco de Papai Noel; a designação de trouxa, para alguém que se deixa "embrulhar" e a grande família dos frascos para embalar perfumes e outras poções mágicas.

Na música – além das delicadas caixas de música - praticamente todos os instrumentos são, na realidade, caixas acústicas para guardar e propagar o som. A modesta caixinha de fósforos serviu para Noel Rosa e Ciro Monteiro comporem sambas – e foi tema de letras irreverentes, como Caixinha, obrigado – de Juca Chaves. Nas artes plásticas, as embalagens estão presentes, desde a pintura acadêmica à impressionista, de Braque a Picasso, nas sopas Campbell de Andy Warhol, nos "embrulhos ambientais" do casal Christo e nas modernas "instalações" que atravancam as bienais.

A safra literária é rica, por exemplo, Fernando Pessoa, neste belíssimo trecho da Tabacaria: Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.

E também em Jorge de Lima, Drummond e Vinicius, ou a mais conhecida, sobre as três mulheres do antigo Sabonete Araxá – que encantaram Manuel Bandeira. Luiz Fernando Veríssimo tem um conto – curto e sombrio - intitulado Caixinha. Um livro da série de Sherlock Holmes chama-se: A Aventura da Caixa de Papelão.

Poderia ter falado de moda - como embalagem da pessoa - mas, aí, o assunto não acabaria nunca... Fica o registro de que, na confecção, existe uma técnica chamada wrapping: envolve-se o manequim com o tecido e "desenha-se com a tesoura".

E finalmente - ainda ligado a moda e roupas - a exibição antiga (há quem encontre suas origens na antiga Babilônia - e está até na Bíblia) denominada striptease, que transformou em prazer visual os atos de embrulhar e desembrulhar...

J. Roberto Whitaker Penteado, no jornal Propaganda & Marketing.

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