Michelson parece satisfeito com a idéia de que a matéria de capa da Super deixaria em definitivo que o darwinismo é sinônimo de "ateísmo e materialismo puro". Qual a razão de tamanho entusiasmo?
Ao qualificar a teoria da evolução como fundamentalmente filosófica, ocorre uma tentativa de nivelar a mesma com o "criacionismo científico", tentando reforçar a impressão de que o neodarwinismo não é cientificamente tão rigoroso e isento de contaminação ideológica quanto outros campos do conhecimento.
Uma das maiores manobras de propaganda do "Design Inteligente" foi tentar convencer o público e financiadores potenciais de que o "materialismo científico" ou "naturalismo filosófico", corrompeu a elite acadêmica norte-americana e forçou cientistas a tomarem aprioristicamente conclusões incorretas sobre nossas origens biológicas.
Essa paranóia, entretanto, não possui o menor fundamento porque inúmeros cientistas ou naturalistas que não são ateus, não só analisaram a evidência empírica e chegaram às mesmas conclusões que o mainstream científico, como muitos deles foram peças indispensáveis nas sínteses evolucionárias das ciências biológicas. Como exemplo, sir Ronald Fischer, pai da estatística moderna e um dos idealizadores da matemática de genética de populações e outros fundamentos teóricos do neodarwinismo, era cristão anglicano.
Pessoas que crêem literalmente que nosso planeta possui apenas alguns milhares de anos, que humanos coexistiram com dinossauros e que o mal e sofrimento do mundo remontam a um incidente envolvendo uma árvore mágica e uma serpente falante, não parecem possuir o menor comprometimento em querer avançar de forma saudável o horizonte para a pesquisa científica no Brasil.
O avanço das igrejas neopentecostais, que incute a cada vez mais jovens uma visão distorcida e mitológica da história natural do planeta, é um fato extremamente preocupante. Observo nisso a triste realidade de formarmos cada vez menos cientistas talentosos e cada vez mais profissionais que não estão interessados em contribuir com linhas de pesquisa importantes em virtude de divergências puramente religiosas.
trecho de Um estrago maior que o da Superinteressante, texto de Manuel Doria no site Observatório da Imprensa. Num artigo loooooongo, o articulista contesta Revista mata a razão e a paciência, texto do jornalista e blogueiro Michelson Borges, publicado em 19/6.
25.7.07
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