"Tautologia: uso de palavras diferentes para expressar uma mesma idéia". Houaiss
Não é uma exclusividade brasileira, mas o pessoal da "academia" (leia-se universidades) tem muita dificuldade para lidar com o real. O mundo das teorias é bem mais prático. O que é, sim, característica da nossa academia, é que quase todos bebem na mesma fonte marxista, temperada pela "escola" de Frankfurt e alguns pensadores franceses mais recentes e mais ranzinzas. O resultado disso é que quase tudo o que produz as universidades brasileiras - em termos de pesquisas, teses, etc. - é de pouca ou nenhuma utilidade.
Quando fazia meu doutorado, assisti a uma apresentação - na cadeira de "estudos de mídia" - de uma jovem que havia estudado a imagem do MST no jornalismo da TV Globo e chegado à conclusão de que a pérfida emissora do Dr. Roberto Marinho (então vivo) só tratava daquele movimento quando seus integrantes invadiam alguma propriedade privada (!)
Apresentei ao professor da cadeira um trabalho no qual tentava demonstrar que a principal motivação da TV Globo, assim como de outros veículos de comunicação privados, era ter audiências numerosas para maximizar seus faturamentos publicitários. Tirei a nota mais baixa de todo o meu curso, e quase fico em dependência. Não só a teoria é mais atraente para os nossos acadêmicos, como a realidade parece assustá-los.
Na ESPM, acabamos de fechar mais um número da Revista (da qual sou o editor), sobre o tema Espetáculo e Comunicação. Como somos uma publicação séria, de uma escola séria, abrimos espaços para várias opiniões, representando posições às vezes contrárias, ideologicamente. Acho ótimo.
Mas já estou na metade do artigo e ainda não expliquei o que é tautológico no espetáculo. Com um exemplo, fica mais fácil. Quando a mídia estava menos ligada no seu papel de entreter as massas para vender os produtos dos patrocinadores, havia profissionais como João Saldanha (para quem se lembra) que tinham a coragem (e o ok dos patrões) de fazer um comentário no intervalo de uma partida de futebol, dizendo que o jogo estava uma droga.
Isso acabou. Não há mais jogos ruins ou corridas monótonas, na Fórmula 1. Tudo tem de ser ótimo e eletrizante, para que o ouvinte não desligue e vá fazer outra coisa. A única coisa que conta é: não se vá, fique conosco! E não é só a mídia eletrônica.
O sucesso de uma ficção chinfrim como Harry Potter, ou de um escritor claudicante como Paulo Coelho, nada mais têm a ver com a qualidade do que é produzido. Se vende, é bom - e os livros, os filmes, e todos os subprodutos resultantes - tudo faz parte do espetáculo - ocupa as capas das revistas semanais - e tem de ser elogiado e apoiado, para gerar mais audiências, mais receitas, num círculo vicioso que se transforma num torvelinho monumental - enlouquecedor e infindável.
Esta é a tautologia do espetáculo, a que me refiro no título. Em si, não é boa nem má. Mas as conseqüências dessa retroalimentação obsessiva são imprevisíveis. Quando tudo parece ser importante, nada mais é importante.
J. Roberto Whitaker Penteado, no jormal Propaganda & Marketing.
27.8.07
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