1.8.07

É gente humilde, que vontade de chorar

O debate econômico da crise ganha, agora, impulso filosófico. Em duas frases lapidares, o presidente da República resumiu a questão do risco e suas seqüelas. A primeira frase: "A gente faz o que pode. Quando não dá pra fazer, a gente deixa pra ver como é que fica". A outra: "Quando entro num avião, entrego a sorte a Deus". Essa, na posse do seu novo ministro da Defesa, Nelson Jobim.

As duas frases resumem o que levou séculos de transpiração a grandes intelectuais, entre filósofos, matemáticos e economistas, ao tentarem buscar o melhor caminho para reconciliar o homem com seu futuro, ou seja, gerir o que ainda não aconteceu, a arte de antecipar e prever, prevenir as chances do acaso e, às vezes, o infortúnio e a tragédia.

Dominar o risco sempre foi essencial ao progresso da humanidade. Quando o presidente afirma ser preferível não fazer nada a tentar fazer o que não sabe, ele reflete o papel da repetição e dos hábitos na construção de "certezas" numa sociedade tradicional, a qual recorria aos oráculos e videntes para perscrutar o lado desconhecido da vida.

Entregar a sorte a Deus, como afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobre o medo de voar, é o estágio de humildade do líder, que sabe distinguir entre o que conhece e o que, de fato, não domina.

trecho de "A sorte, a Deus", texto de Paulo Rabello de Castro publicado na Folha de S.Paulo.

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