A ilusão do besta

Se a política do Brasil é uma merda, se a saúde do Brasil é uma merda, se a educação do Brasil é uma merda, se a segurança do Brasil é uma merda, se a aviação do Brasil é (já falei muita merda, né?!) um cocô, por que o esporte do Brasil seria tão bom?! Houve uma preparação mais atenta dos atletas brasileiros para esse Pan. O governo federal deu mais apoio para que não ocorresse um vexame brasileiro dentro da própria casa. Isso é fato. Então, o Brasil teve seu melhor desempenho em jogos Pan-Americanos de toda a história. Mas daí querer transformar esportistas medianos em esportistas de primeiro time, existe uma diferença grande – só não maior que ir daqui para a China andando, ao invés de ir de avião!

É claro que quem lê minhas observações e as observações de outros jornalistas, sobre o Pan ser uma grande ilusão, pode achar que estamos sendo severos demais com os esportistas brasileiros. Afinal, eles fizeram sua parte: venceram. Se os oponentes eram fracos, não era problema dos brasileiros. Verdade. No entanto, existe uma mídia que transmite os jogos Pan-Americanos. Ela, obviamente, não tem interesse em discutir a qualidade dos competidores do Pan para não tirar a importância do espetáculo que transmitem. Mas, como eu e alguns colegas não transmitimos nada e não temos o rabo preso com audiência alguma – desabafamos nosso recado.

Concordo que é bonito ver a bandeira brasileira tremulando no ponto mais alto do pódio. É gostoso ouvir o Hino Nacional sendo cantado por uma multidão eufórica. É gratificante olhar uma juventude sadia e bonita praticando esporte. No entanto, a beleza não deve impedir alguém de pensar e andar ao mesmo tempo. O Brasil não pode aceitar migalhas e comemorar o fato de seu povo não morrer de fome. Parabéns aos vencedores – mas não esqueçamos dos opressores. Olhemos, com olhos de enxergar, para o que acontece com Cuba. Sejamos brasileiros e com orgulho, mas não sejamos bestas!

trecho de "Pan 2007: a ilusão do besta!", texto de Fábio de Lima no site Comunique-se.