31.8.07

Porta de saída

Não vejo como se possa pretender proibir uma igreja homofóbica de ensinar seus seguidores que tal prática é condenável. O que um sacerdote ensina a seus fiéis entre as quatro paredes do templo é assunto que diz respeito exclusivamente a eles.

Vou até um pouco mais longe e sustento que igrejas têm todo direito de não aceitar membros gays. Um templo não é, afinal, um órgão oficial ou um permissionário de serviços públicos, os quais precisam sujeitar-se a regras de universalidade.

Afirmar que o homossexualismo é um pecado capaz de condenar seus praticantes à danação eterna é uma tremenda de uma bobagem, mas não é um juízo que distoe de outras afirmações da religião, como a existência da alma ou a transubstanciação do vinho em sangue.

A teologia, como a literatura, é um terreno onde qualquer ficção pode prosperar livremente. E a melhor forma de o Estado lidar com o fenômenos religioso e toda sua exuberância muitas vezes conflitante é atribuir a todos os credos o mesmíssimo "status", que inclui a liberdade de professar qualquer coisa desde que não implique a realização de crimes como o sacrifício humano. Caberá à escola pública tentar ensinar aos jovens idéias mais equilibradas, o que eventualmente lhes dará uma porta de saída para os grilhões da religião.

Se os homossexuais não estão satisfeitos com a Igreja Católica, que os discrimina, não deveriam insistir em nela permanecer. Eu pelo menos não faço nenhuma questão de entrar no clube que não me quer como sócio. Ao contrário, vejo aí uma boa razão para cultivar saudável distância.

É mais do que legítimo que gays exijam do Estado que lhes reconheça o direito de casar-se civilmente, mas não dá para esperar que esse mesmo Estado imponha à Igreja Católica a obrigação de conceder-lhes o sacramento do casamento. Que se inspirem em Bach e fundem a Igreja Católica de Cristo Alegria dos Homens ou qualquer outra que não faça restrições ao comportamento sexual de seus fiéis.

Basicamente, as pessoas devem ter o direito de acreditar em idéias tolas e e ensiná-las a seus filhos. É o preço que pagamos por viver numa sociedade democrática.

Hélio Schwartsman, colunista da Folha Online.

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