A criatividade é uma qualidade dos mais jovens. A maioria dos psicólogos compartilha essa idéia. Alguns estudos apontam que o ápice se dá até os 30 anos e que, a partir dessa idade, a energia criativa começa a diminuir. Na era da informação, não faltam exemplos para ilustrar essa teoria. Basta lembrar de Bill Gates, Steve Jobs e tantos outros que brilharam quando ainda eram universitários. O que sobra para os mais velhos? Sabedoria, dizem os mesmos estudiosos.
Um estudo do economista David Galenson, professor da Universidade de Chicago, contesta essa avaliação. Segundo ele, os especialistas erram ao levar em conta apenas a criatividade que surge de forma impetuosa, num repente. Essa é, de fato, uma qualidade dos espíritos mais jovens, concorda Galenson. É possível, porém, inovar gradualmente, a partir de pequenos avanços - uma capacidade das mentes mais treinadas e experientes.
Amante da arte, o economista expõe sua tese ao comparar quatro pintores que foram amigos, tinham idades próximas, viveram mais de 65 anos e participaram do mesmo ambiente artístico em Paris por um bom período de suas vidas.
São eles Cézanne, Monet, Renoir e Pissarro - entraram para a história da arte como criadores do Impressionismo, o movimento da segunda metade do século 19 que defendia uma pintura capaz de reproduzir as sutilezas de luz de um único momento. Usavam pinceladas mais soltas em quadros feitos ao ar livre. Odiavam a arte acadêmica, que era consumida pela elite parisiense.
Apesar dos laços de amizade e dos vínculos estéticos, o grupo seguiu caminhos diferentes. À medida que envelheciam, Cézanne e Monet continuaram a inovar e a produzir obras importantes. Renoir e Pissarro são lembrados atualmente apenas pelos seus primeiros quadros impressionistas. Por que os dois primeiros permaneceram criativos e os outros não?
De acordo com o estudo de Galenson, Cézanne e Monet estavam sempre insatisfeitos com suas conquistas. Gostavam de aprender com os próprios erros. Sabiam que a inovação poderia surgir de pequenos avanços cotidianos. Não se acomodaram, vício da maioria, com as glórias passadas. Permaneceram fiéis a si mesmos quando o mercado mudava de gosto e abraçava a última novidade.
O resultado dessa postura é conhecido pelos estudiosos de arte. Diferentes das primeiras obras impressionistas, os últimos quadros de Cézanne, morto aos 67 anos, abriram caminho para o cubismo de Picasso e Braque. As pinturas que Monet realizou na velhice - morreu aos 86 anos - são consideradas precursoras do expressionismo abstrato que revolucionou a arte americana na década de 50.
Renoir e Pissarro não tinham o mesmo gosto pela experimentação de seus colegas. Quando o impressionismo começou a sair de moda, agarraram-se a outras escolas artísticas, deixaram de inventar e perderam importância. "As últimas conquistas de Cézanne e Monet são demonstrações claras de como se pode atingir inovações radicais gradualmente", afirma Galenson.
fonte: Época Negócios
20.8.07
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