Carlos Buby moldou a religião para que fosse atraente e agradável para os letrados. “Buby criou uma umbanda clean”, afirma Lísias Negrão, sociólogo da Universidade de São Paulo (USP). O pai-de-santo diz que o estilo dos rituais faz parte da doutrina estabelecida pelo Caboclo Guaracy. Para ensinar esses preceitos, dá cursos pelos quais cobra até R$ 200.
Nas aulas, os ditos médiuns, iniciantes ou não, tomam nota freneticamente, enquanto Buby lança mão de conceitos científicos, como os genes ou a força da resistência do ar, para tentar explicar as energias dos orixás e suas formas de atuação.
“No Templo Guaracy, a arquitetura, os rituais, a filosofia e a explicação do mundo são complexos”, afirma a antropóloga húngara Viola Teisenhoffer, que faz doutorado sobre a expansão de terreiros de umbanda na França pela Universidade Paris X. “Eles atendem o tradicional umbandista e ainda atraem um público sofisticado, que provavelmente nunca pisaria num templo de fundo de quintal.”
É o caso da paulistana Daniela Matarazzo (foto), de 36 anos. A advogada da Embraer e ex-professora universitária, freqüenta o Templo Guaracy há seis anos. Daniela conheceu o lugar por meio de uma aluna de seu curso de Direito. “Eu trabalhava demais, vivia estressada e havia muito tempo não praticava minha religiosidade”, diz a advogada, cuja formação foi católica.
Casada, mãe de dois filhos, com uma rotina estressante que a faz se dividir entre duas casas, uma em São José dos Campos, onde trabalha, e a outra em São Paulo, onde mora, ela afirma que o terreiro ajuda a melhorar sua qualidade de vida. “Vejo o templo como uma terapia. A umbanda se mostrou uma ótima oportunidade de refletir sobre a vida. Sempre saio com a auto-estima mais fortalecida.”
Daniela nunca freqüentou outros terreiros antes e diz se sentir segura com o trabalho do Templo Guaracy. Quando questionada sobre outros terreiros, ela hesita. “O que me fez ir ao Templo Guaracy foi o fato de os rituais serem de dia e de o lugar ser muito bonito, organizado e agradável”, afirma. “Se fosse à noite, num quartinho escuro, eu jamais iria. Tenho meus limites.”
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Segundo o pai-de-santo, todos os seus templos, inclusive aqueles fora do país, foram construídos com o dinheiro de doações dos freqüentadores. Ele também afirma que nunca houve transferência de caixa do Brasil para o exterior. “Cada templo se mantém com os recursos que consegue. Não há intercâmbio de dinheiro entre eles”, diz Buby.
Ao contrário do que comumente acontece nos terreiros, ele não paga as contas do templo. Buby adota uma prática de muitas religiões tradicionais, mas exceção na umbanda: é sustentado pelo templo.
Enquanto padres, bispos e rabinos recebem por se dedicar à religião, pais-de-santo da umbanda não se profissionalizam. Ao contrário, põem dinheiro do próprio bolso na instituição. “Mais de 90% dos terreiros são sustentados pelos dirigentes. Feliz é o pai-de-santo que consegue viver do dinheiro que sai dali”, afirma Rubens Saraceni, dirigente e autor de livros sobre o tema.
trecho de O pai-de-santo que reinventou a umbanda, reportagem publicada na revista Época.
8.8.07
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