29.8.07

A verdade é seu dom de iludir

"Eu não brigo com a imprensa. Eles brigam comigo...O fato dela [a imprensa] bater não impediu que eu chegasse à Presidência da República e não impediu que eu me reelegesse."

Esta declaração do presidente Lula foi registrada na sexta (24/8), no Paraná. Contém três inverdades:

** Em 2002 a imprensa não bateu no candidato Lula. Ao contrário, o candidato do PT foi tratado pela mídia com respeito e simpatia. Se houve excessos foram a seu favor.

** Foi o presidente Lula quem deu seqüência aos ataques da direção do PT à mídia quando tentou recuperar sua imagem logo depois do escândalo do "mensalão".

** A briga com a imprensa foi puxada pelo presidente-candidato Lula em meados de 2006.
Quando era apenas candidato (contra Collor e FHC), Lula jamais ousou criticar a imprensa, mesmo que guardasse mágoas da TV Globo. Parafraseando o presidente, "nunca neste país houve um candidato com tantos amigos na mídia".

Em 2006, acuado pelas revelações que jorravam da CPI dos Correios, Lula partiu para o ataque. Escolheu a imprensa como alvo porque sabia que assim obteria mais repercussão. Mas esqueceu da sua dupla condição de candidato-presidente. Como postulante nada o impedia de criticar pessoas, grupos ou instituições, mas como presidente qualquer ataque à imprensa fatalmente soaria como ameaça.

Lula sabia disso, seu furor antimídia não foi acidental, fruto de um súbito mau-humor. Foi pensado: precisava provocar a mídia para um grande combate e assim neutralizar os efeitos devastadores do "mensalão". Precisava novamente assumir a condição de vítima.

Um ano depois, o recurso eleitoral transformou-se em procedimento rotineiro. A imprensa virou o sparring palaciano preferido: quando precisa escapar das cordas e sair da defensiva, basta um peteleco na mídia e logo ganha as manchetes.

"A tendência a transformar tudo em complô da mídia – que está longe de ser inocente, principalmente na sua atitude para com o governo Lula, mas no caso do mensalão, fora as diatribes sinistras contra intelectuais do PT proferidas por uma certa revista, ela [a imprensa] acertou mais do que errou – é propriamente lamentável e mostra a total desorientação de parte da intelectualidade petista.". [(a) Ruy Fausto, professor emérito de filosofia da USP, em entrevista à Folha de S.Paulo, 26/8/2007, pág. A-12]

A desorientação não é apenas da intelectualidade do PT, é de alguns dirigentes do PT nos quais o presidente confia tanto. Este delírio antimídia uma dia será cobrado dos intelectuais do PT, dos dirigentes do PT e do presidente que o PT emplacou duas vezes, uma delas graças justamente ao discurso antimídia.

No mesmo pronunciamento de 24/8 (terceiro dia do julgamento dos "40 do mensalão" pelo Supremo Tribunal Federal), Lula produziu esta pérola: "A imprensa pensa ter o dom da verdade". Não poderia imaginar que alguns dias depois a suprema corte confirmaria em grande parte tudo o que a imprensa publicou a respeito do escândalo.

A imprensa não pensa que tem o dom da verdade, ela somente busca a verdade. Quem parece detestá-la é o presidente Lula.

Alberto Dines, no site Observatório da Imprensa.

Um comentário:

balaio do pedrão disse...

Alberto Dines, por ser do Conselho da Sala São Paulo, ao lado por exemplo de FHC, por ser conivente com o desperdício de dinheiro que o PSDB derrama para a classe média e rica com o salário criminoso que o Neshiling ganha, perde muito do crédito que conquistou ao longo desua carreira brilhante.

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