29.9.07

Amor antigo


O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige, nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
Carlos Drummond de Andrade
,
foto: Largo do Rosário - centro de Campinas (SP)

2 comentários:

luciana disse...

É como o bom vinho,
não usufrui, mas está ali.
Não se expõe, mas sei que está ali.
Pronto a ser degustado quando numa ocasião especial,
e aí...
quanto mais velho, melhor.

Cícero Alvernaz disse...

Amor antigo, não velho. Amor presente e passado, não ultrapassado. Amor, enfim, é sempre amor, seja em qualquer lugar ou onde for.

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