2.9.07

Eu creio, mas tenho dúvidas

A missionária Madre Teresa de Calcutá cruzou o século XX como a representação perfeita da boa cristã. A fé inabalável que demonstrava e sessenta anos de trabalho ininterrupto com os miseráveis, doentes e abandonados renderam-lhe a alcunha de "santa das sarjetas" e também um Prêmio Nobel da Paz, em 1979.

Sua determinação em ajudar o próximo, dizia ela, vinha da convicção de que Cristo estava presente em todos os lugares, "em nosso coração, no sorriso que damos e no sorriso que recebemos".

Agora, dez anos após a morte de Madre Teresa, acaba de vir à tona um outro lado de sua vida interior. Nele, em lugar da fé incondicional, movia-se um turbilhão de dúvidas quanto à presença de Cristo em sua vida, quanto ao poder das orações e até mesmo quanto à existência de Deus.

No íntimo, a religiosa, que dizia enxergar a iluminação divina em todos os lugares, lutava para acreditar no que pregava. A outra faceta de Madre Teresa emerge de sua longa correspondência com seus confessores, só agora revelada e reunida no livro Mother Teresa: Come Be My Light (Madre Teresa: Venha Ser Minha Luz), que será lançado nos Estados Unidos nesta semana. "Há uma escuridão terrível dentro de mim. Tem sido assim desde que comecei meu trabalho", desabafa ela a certa altura.

A iniciativa de compilar as cartas confessionais de Madre Teresa e publicá-las foi do padre Brian Kolodiejchuk, que conduz o processo de canonização da missionária. Não há contradição no fato de que o próprio padre que postula a santidade de Madre Teresa exponha suas dúvidas.

A Igreja considera que as crises de fé são ritos de passagem, muitas vezes necessários para alcançar a verdadeira iluminação. São inúmeros os santos que, em vida, admitiram ter lutado contra a ausência de fé.

"Quando escrita por terceiros, a vida dos santos costuma ser narrada como um caminho reto em direção a Deus, mas, quando o santo deixa seus próprios depoimentos, ficam evidentes os altos e baixos da sua fé", aponta Lindomar Rocha, da PUC de Minas Gerais. O próprio Cristo, segundo os relatos bíblicos, teve um momento de dúvida na cruz, ao questionar: "Deus, Deus, por que me abandonaste?"

Santo Agostinho (354-430), o pensador que deu suporte racional ao cristianismo, deparou com muitas dúvidas em sua fé. Como pensador, ele partia do princípio de que, para acreditar nos dogmas religiosos, era necessário compreendê-los. Mas, à medida que os investigava, mais lhe surgiam questionamentos. Santo Agostinho só consolidou sua fé ao chegar à conclusão de que seu enunciado se encontrava incompleto: para compreender os mistérios da fé, é necessário acreditar neles primeiramente.

No século XVI, o espanhol São João da Cruz criou a expressão "noite escura" para descrever a etapa intermediária, de dúvida e descrença, entre a certeza simples na existência de Deus e o último nível de consciência, em que o homem se encontra com o Criador.

No caso de Madre Teresa, chama atenção o longo período que durou sua "noite escura". As cartas em que ela manifesta dúvidas com relação à própria fé abrangem um período de cinqüenta anos.

Para o padre Kolodiejchuk, autor do livro, essa longa jornada de angústias e de dúvidas, em vez de desmerecer a missionária, apenas enaltece suas virtudes. "Ela não sentia o amor de Cristo dentro de si e poderia ter-se fechado. Mas estava de pé toda manhã às 4h30, sempre pronta a se dedicar em tempo integral aos menos favorecidos. Esse continua sendo um exemplo poderoso", diz ele.

fonte: Veja

5 comentários:

luciana disse...

Péra lá,...
um momento de escuridão é normal e todos passamos. Agora, passar a vida toda questionando sobre Deus e seu amor, algo está errado.
Ela era uma pessoa extraordinária.
Acabo crendo que conhecia os pobres e suas necessidas,mas, não conhecia Deus e por isso não desfrutava de Sua comunhão.
"Filho meu dá-me o teu coração."

Anônimo disse...

A sabedoria é demonstrada pelas suas obras! O que ela fez demonstrava no que ela acreditava.

Anônimo disse...

Eis a diferença em crer e acreditar. Talvez ela acreditasse em Jesus Cristo, mas não O tivesse "recebido". Como diz no evangelho de João, da necessidade de crer no nome do Senhor Jesus: "A todos quantos O receveram deu-lhes o poder de serem feitos Filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome" João 1:12. E crer no nome do Senhor é recebê-Lo, invocando o Seu nome: Óh! Senhor Jesus!! "Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" Romanos 10:13

Anônimo disse...

Temos que ver no que nós também cremos e assim saberemos em é que está certo, obras não nos da o respaldo para o céu, mas a fé, do contrário vamos ver o que crêem nas obras, somente, como base para fé.

Unknown disse...

Escuridão sim, mas o encontro diário com Cristo em todas as manhãs, se fazia, quando ela alimentava e cuidadava dos pobres, mostrando-lhes o amor de DEUS (Quem cuida dos pequeninos a mim cuidou! está na escritura né?). Quem somos nós para falar algo sobre ela? Eu pelo menos, nunca dediquei nem uma semana (exagerei) sequer de minha vida ao próximo, porisso se existe evangelho (boa notícia) ela soube transmiti-lo muito bem. Se existir algum Creme dental no céu (quem sabe a marca "CUIDADO BOQUINHA O QUE FALAS"), seria bom fazer uso antes de falar de alguém que não só viveu o evangelho mas o propagou. E não me venha com um punhado de versículos querendo provar alguma teologia barata!
Eu creio no filho de DEUS, Jesus, e N'Ele resussitado, creio no amor, creio no respeito.
O livro nem saiu gente, e já estamos fazendo uma nova Inquisição, tenho a impressão que perdemos o verdadeiro amor e respeito pelos diferentes de nós.
Ps. Sou de família evangélica desde que nasci, salvo desde a minha adolescência, e nestes meus 46 anos de existência, tem sido difícil me livrar de pensamentos e dógmas tão medievais, quanto os que li nos comentários anteriores.

(Quem nunca duvidou ou teve noites escuras em sua vida que atire a primeira, segunda, terceira, quarta, qui.... PEDRA)

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