3.9.07

Gênios do marketing (29)

O cenário de dezenas de caixões empilhados, urnas de cremação coloridas e carros de funerária só parece mórbido para quem não é do ramo. Para os visitantes da Funexpo, feira voltada a agentes funerários que terminou no final de semana no Guarujá (SP), é tudo muito bossa nova, tudo muito natural.

"O que eu mais gosto é de ver os caixões", diz Bruna Romanini, 14, de família dona de funerária em Jacareí (SP). "Ela adora mesmo", confirma a tia Andrea, 29. "Especialmente este da Barbie", retoma Bruna, apontando para um caixão cor-de-rosa, com lacinhos no forro.

Caixão da Barbie? "É, está todo mundo chamando de "caixão da Barbie". Criei como opção para as mocinhas. Ou para homens também, vai saber", diz a fabricante Regina Agostinho, de Valença (RJ). O modelo sai no atacado por R$ 1.080. Há outro lilás, com paetês e renda purpurinada, que "está na mesma faixa de preço".

Para atrair clientela, o estande sorteou três caixões infantis de design arredondado e pinturas de anjinho e estrelinhas, criado para tentar amenizar, no que for possível, o choque do formato tradicional.Outros itens em exposição: lápides; coroas de flores de plástico; maquiagem funerária em seis tons de pele, da mais alva à mais escura; caixões de diversos tamanhos, como "alto", "gordo" e "supergordo".

Como em qualquer feira de negócios, existe disputa para chamar a atenção. Uma empresa contratou dançarinos de axé. E eis que o trio, um rapaz, uma loira e uma morena, surge com a coreografia de "Berimbau Metalizado", de Ivete Sangalo.

"No começo, achei meio estranho dançar aqui, mas depois fiquei tranqüila. Acho que o pessoal gostou bastante", diz a dançarina Natalie Miacci, 22.

O evento acontece a cada dois anos em São Paulo, mas desta vez migrou para o Guarujá para agregar lazer à viagem. O logotipo da feira é um caixão sorridente equilibrando-se sobre uma prancha de surfe.

"Achei as praias paulistas lindas, pena que não fez sol em nenhum dos dias", lamenta Sérgio Guimarães, relações-públicas do sindicato funerário do Ceará, que veio em delegação de 50 pessoas para a feira.

Marcelo Celloto, vereador em Pedreira (SP) e agente funerário há dois anos, trouxe mulher e os três filhos (quatro, seis e nove anos). "Eles estão muito acostumados. Nós moramos na funerária: a casa fica em cima, a funerária fica na parte de baixo. Para nós, é tudo normal."

Sindicatos da categoria também estavam lá. "O patrão de carro novo e nós comendo pão com ovo", protesta o cartaz de trabalhadores de Minas Gerais. A três estandes dali, uma agremiação de patrões estampa o cartaz: "Eu tenho orgulho de ser agente funerário".

Palestras de motivação agregaram visitantes e expositores. Algumas dicas do consultor Alfredo Rocha no seminário "Vendas e Atendimento": "Quais são as maiores mentiras da venda? Uma delas é "não tem clientes". Você pensa: "Mas ninguém morre mais?" Não é verdade. Tem 7 bilhões de sujeitos na terra. Que estão durando mais, é verdade. Mas que, uma uma hora, vão morrer!"O público aplaude.

fonte: Folha de S.Paulo

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