14.9.07

Quarta-feira foi de cinzas

O dia 12 de setembro de 2007 entrará para a história do país como o dia em que foi feita Justiça, com jota maiúsculo, no Senado Federal da República.

Paradigma de seriedade, de retidão, de lisura, de homem voltado ao interesse público acima de todos os obstáculos e vícios, o presidente do Senado, o ilustríssimo senhor Renan Calheiros teve seu mandato preservado por seus pares em julgamento imparcial, probo e desinteressado, que levou em conta os mais altos valores republicanos.

A esta altura do campeonato, o que é que o nobre leitor queria que eu dissesse? Só mesmo fazendo pouco de nós mesmos -e dos homens improbos que cada um de nós elegeu senador- é que consigo apaziguar meu sistema digestivo.

Sem-vergonhice, baixeza, safadice, desfaçatez, escárnio, frascarice, meretrício... Qualquer adjetivo, substantivo ou advérbio que se empregue na tentativa de explicar o que ocorreu na votação secreta do Senado é débil e raquítico para definir o tamanho do crime cometido por esses senhores que supostamente representam o eleitor tapuia.

E eu acho muito engraçado essa nova moda que existe por aí, lançada por luminares como o ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, e pelo deputado cassado José Dirceu, que insiste em aludir à "pressão da mídia", à "ditadura da imprensa", e termos afins, para definir o que nada mais é do que a voz da opinião pública.

Ou será que existe alguém neste país de dimensões continentais, à exceção da mãe do ilustre senhor senador Renan Calheiros, de seus filhos e irmãos que tenha entendido que foi feita justiça no julgamento que evitou sua cassação?

Fico imaginando o tipo de argumento usado pela base renanzista (peço desculpas pela expressão, que mais parece um anagrama de rena nazista), os achaques e as chantagens feitas para obter cada voto pró-Calheiros dos capadócios que têm, cada um a seu modo, um telhadinho de vidro a zelar.

Não fosse por uma ou outra exceção, eu estaria aqui hoje sugerindo que o eleitor nunca mais votasse em nenhum dos senadores que lá estão.

Não pretendo jogar lama sobre o senador Aloizio Mercadante, por quem sempre fui tratada com imensa cordialidade, mas que péssima hora para fazer seu "comeback", seu retorno à cena, hein, senador?

Imagino que o eleitor de Santa Catarina também tenha acompanhado a atuação de dona Ideli Salvatti ao longo deste penoso capítulo de nossa história. Quem se lembra de sua teatralidade à época do mensalão não poderá acusá-la de incoerente.

Barbara Gancia, na Folha de S.Paulo.

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