8.10.07

Feijão (era) Maravilha

"O casamento é a maior causa do divórcio."
Groucho Marx

Em quatro décadas, o consumo de feijão no Brasil caiu pela metade. A moeda tempo tirou o feijão da panela e, se tirou da panela, tirou da mesa.Dados divulgados pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) revelam que a partir da década de 60 o consumo de feijão pelos brasileiros vem caindo a uma média de 1% ao ano. Dos 23 quilos/habitantes ano do início dos anos 60, para os atuais pouco mais de 12 quilos/ano.

Assim, o feijão é mais uma das ví­timas do segundo bolso do consumidor moderno, o bolso do tempo, o do poder restritivo, em contrapartida ao bolso do dinheiro, o do poder aquisitivo. Mesmo que o brasileiro continue manifestando sua preferência - e muitos, mesmo, paixão - pelo feijão, a distância dessa amizade e amor vai aumentando com o correr dos anos, e com o correr da vida.

É o progresso! Progresso?! Até os anos 50 muitas pessoas moravam nos campos e em casas. E muitos mantinham o salutar hábito não apenas de comer feijão todos os dias, mas de comer o feijão que era produzido no fundo do quintal. Plantavam e comiam.

Com o adensamento do processo migratório, com o crescimento das grandes metrópoles, os quintais foram diminuindo, mais para frente dando lugar a prédios, e as pessoas se mudando para apartamentos. Enquanto comiam em casa, não abriam mão do feijão. Mas o tempo foi encurtando, as refeições sendo realizadas fora de casa, e o feijão ficando pelo caminho.

Nas refeições rápidas, muitas vezes nem mesmo dava tempo para sentar e comer com um mí­nimo de qualidade e, também, de educação. E acabavam engolindo um sanduí­che, ou pedaços de pizzas, e mais recentemente, um variado nos quilos e nos rodí­zios.

E quando a mulher precisou sair de casa para trabalhar, aí­ mesmo é que o feijão caiu no esquecimento. Quando chegava em casa, depois de duas jornadas de trabalho e ainda tendo que enfrentar a terceira, a de arrumar a casa e dar um jeito nas roupas da famí­lia, não sobrava tempo para o preparo de refeições mais demoradas.

Finalmente, para a desgraça do delicioso e emblemático feijão, para muitas pessoas que ascenderam socialmente, lembrava os tempos de dificuldade, de pobreza, e ficou mais esquecido ainda.

Anos atrás, num mundo onde cada vez mais todo mundo faz contas, onde a relação custo-benefí­cio passou a fazer parte do cotidiano das pessoas, a ví­tima emblemática foi o jumento. Mesmo com um curriculum invejável, que incluí­a sua presença no nascimento de Cristo, nem de graça, pelas despesas que sua manutenção implicava, as pessoas queriam.

Agora, a nova ví­tima é o querido feijão. Que não obstante os relevantes serviços prestados a todos os brasileiros indistintamente, a cada dia que passa despenca para segundos, terceiros e quartos planos, e só brilha excepcionalmente nos finais de semana, na variedade preto, e protagonizando celebradas feijoadas. Fora disso, de ator principal, converteu-se em eventual coadjuvante.

Coisas da Timeless Society.

Francisco A. Madia, no jornal Propaganda & Marketing.

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