"O casamento é a maior causa do divórcio."
Groucho Marx
Em quatro décadas, o consumo de feijão no Brasil caiu pela metade. A moeda tempo tirou o feijão da panela e, se tirou da panela, tirou da mesa.Dados divulgados pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) revelam que a partir da década de 60 o consumo de feijão pelos brasileiros vem caindo a uma média de 1% ao ano. Dos 23 quilos/habitantes ano do inÃcio dos anos 60, para os atuais pouco mais de 12 quilos/ano.
Assim, o feijão é mais uma das vítimas do segundo bolso do consumidor moderno, o bolso do tempo, o do poder restritivo, em contrapartida ao bolso do dinheiro, o do poder aquisitivo. Mesmo que o brasileiro continue manifestando sua preferência - e muitos, mesmo, paixão - pelo feijão, a distância dessa amizade e amor vai aumentando com o correr dos anos, e com o correr da vida.
É o progresso! Progresso?! Até os anos 50 muitas pessoas moravam nos campos e em casas. E muitos mantinham o salutar hábito não apenas de comer feijão todos os dias, mas de comer o feijão que era produzido no fundo do quintal. Plantavam e comiam.
Com o adensamento do processo migratório, com o crescimento das grandes metrópoles, os quintais foram diminuindo, mais para frente dando lugar a prédios, e as pessoas se mudando para apartamentos. Enquanto comiam em casa, não abriam mão do feijão. Mas o tempo foi encurtando, as refeições sendo realizadas fora de casa, e o feijão ficando pelo caminho.
Nas refeições rápidas, muitas vezes nem mesmo dava tempo para sentar e comer com um mínimo de qualidade e, também, de educação. E acabavam engolindo um sanduíche, ou pedaços de pizzas, e mais recentemente, um variado nos quilos e nos rodízios.
E quando a mulher precisou sair de casa para trabalhar, aí mesmo é que o feijão caiu no esquecimento. Quando chegava em casa, depois de duas jornadas de trabalho e ainda tendo que enfrentar a terceira, a de arrumar a casa e dar um jeito nas roupas da família, não sobrava tempo para o preparo de refeições mais demoradas.
Finalmente, para a desgraça do delicioso e emblemático feijão, para muitas pessoas que ascenderam socialmente, lembrava os tempos de dificuldade, de pobreza, e ficou mais esquecido ainda.
Anos atrás, num mundo onde cada vez mais todo mundo faz contas, onde a relação custo-benefício passou a fazer parte do cotidiano das pessoas, a vítima emblemática foi o jumento. Mesmo com um curriculum invejável, que incluía sua presença no nascimento de Cristo, nem de graça, pelas despesas que sua manutenção implicava, as pessoas queriam.
Agora, a nova vítima é o querido feijão. Que não obstante os relevantes serviços prestados a todos os brasileiros indistintamente, a cada dia que passa despenca para segundos, terceiros e quartos planos, e só brilha excepcionalmente nos finais de semana, na variedade preto, e protagonizando celebradas feijoadas. Fora disso, de ator principal, converteu-se em eventual coadjuvante.
Coisas da Timeless Society.
Francisco A. Madia, no jornal Propaganda & Marketing.
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