7.10.07

Ladeira abaixo

“Eu fui só transcrevendo na lousa. Com um dicionário, mediante a minha orientação, eles foram procurar os conceitos de cada palavra.”

Cansada da zoeira com palavrões na sala de aula, a professora Raimunda Gomes Castro decidiu ajudar a gurizada a descobrir o significado das palavras que estavam proferindo. A evangélica paraense está sendo processada pelos indignadíssimos pais de três alunos.

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Reunião do G8 na Rússia em 2006. George Bush trocava idéias com Tony Blair, sem saber que os microfones estavam ligados. “A ironia é que o que eles [a ONU] precisam fazer com que a Síria convença o Hezbollah a parar com essa merda, e aí está acabado”, mandou o evangélico. A frase correu o mundo no dia seguinte.

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Com certos filtros subtraídos apesar de a doença ainda estar no estágio inicial, o conhecido pastor recebeu visitas.

– Querido, alguns amigos vieram ver você. Vamos colocar uma camisa bem bonita para receber seus colegas de ministério.

– De novo? Aposto que aqueles veadinhos vão querer orar por mim novamente...

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Em Como os pingüins me ajudaram a compreender Deus (Thomas Nelson Brasil), Donald Miller fala de um líder amigo que criou a reputação de ser “um pastor que dizia palavrões”. Conta ainda que o ministro de sua comunidade também fala palavrões, embora menos que o “Pastor Desbocado”.

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And you were too busy steering the conversation toward the Lord
to hear the voice of the Spirit, begging you to shut the fuck up

trecho de “Foregone Conclusions Lyrics”, música da banda cristã Pedro The Lion. Líder do grupo, David Bazan hoje segue em carreira-solo.

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“Querem saber de uma coisa? Vocês não conhecem Craig como eu. Então é melhor parar de falar tanta #$&@! Calem essa *#@&% dessa boca!”

O Craig [Groeschel] em questão é o autor de Confissões de um pastor (Mundo Cristão). Ele elogia o jeitão do amigo e diz que prefere “estar perto de um não-cristão autêntico do que de um seguidor de Cristo que vive como se estivesse representando num teatro o tempo todo”.

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Há alguns anos, um escritor e pastor americano citou a palavra "merda" numa de suas palestras. A uma platéia estupefata, ele argüiu que os cristãos se escandalizavam com determinadas palavras mas estavam anestesiados para aquilo que realmente deveria produzir indignação neles.

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Os olhos divinos enxergam o que está sob a superfície. Por mais que tentemos camuflar a forma, o conteúdo é transparente para Deus. Será que isso também vale para os “palavrões”?

As aspas são necessárias porque a linguagem é viva e muda continuamente. Palavras consideradas “obscenas” são aceitas tempos depois. Basta observar os textos publicados atualmente nos jornais e revistas. Muitos cristãos objetam que há um poder quase mágico nas palavras, crença reforçada por páginas cristãs tão pobres de conteúdo quanto de fundamentação bíblica. Muitos brincam que, fosse tal crença verdadeira, os lupanares estariam repletos de progenitoras de juízes de futebol.

“O ensinamento de Jesus sobre como viver não pode ser reduzido à informação, palavras, regras, livros ou instruções”, defende Brian McLaren no livro Uma generosa ortodoxia (Palavra).

Os cristãos deveriam ser reputados (sem trocadilho) como os verdadeiros criadores da Second Life. Vivemos num mundo imaginário, literalmente crentes de que adotar certas práticas já é suficiente para sinalizar que somos diferentes. Limar algumas expressões do vocabulário é um dos expedientes mais fáceis e triviais para os avatares que forjamos. Basta olhar para o lado para constatar a falibilidade e a incompletude dessa práxis hipócrita.

Philip Yancey afirmou que “a moeda das palavras sofre, há séculos, uma deflação inexorável”. No entanto, a verdadeira analose está na qualidade de relacionamento que os cristãos têm com Deus, fruto talvez do permanente jorro lácteo despejado pelos púlpitos e por zilhares de livros.

A julgar pela sucessão de escândalos envolvendo o povo santo, o fundo do poço de tristeza parece não ter fim. Possa o Pai misericordiosamente ajustar as nossas lentes e tornar verdadeiras em nós as palavras do antigo poema hebraico:

Quando estamos nos degraus mais baixos da escada do pesar, nós choramos.
Quando chegamos à metade dela, nós emudecemos.
Mas quando alcançamos o topo da escada do pesar, nós convertemos a tristeza em canto.
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meu texto na edição número 1 da CristianismoHoje. A coluna foi intitulada "PavaZine#".

7 comentários:

Anônimo disse...

Isso sim é uma honra loco véio! Cristianismo hoje é de longa data uma riquíssima fonte de inspiração para meu ministério. Parabéns Pavarini. Fabiano

Anônimo disse...

Pergunta básica, querido: de onde você tira tanta inspiração? rsss

Parabéns!!!!

Bjokas

Anônimo disse...

Arrasou, Pavão!! Acho que vais precisar de guarda costas pra sair na rua de tanta pedrada que irás receber de muitos crentes.

Você tá sempre alguns quilometros à frente!

Abçs

`:_(°)~ Mεnos έ Mąis ~(°)_:´ disse...

Sabemos que vc não está fazendo apologia às Palavras torpes.
Vc cria tendência e inspira as pessoas, fico preocupada, que não entendam que vc quer dizer: que cristãos não se posicionam quando precisam.
Não é o seu caso.
Que Deus te inspire e crie em vc a renovação da mente (metanóia) necessária para que seja entendido sem que atirem pedras em vc.
Parabéns.
Cristina

Anônimo disse...

SALMO 112

5 Feliz é o homem

que empresta com generosidade

e que com honestidade conduz os seus negócios.

6 O justo jamais será abalado;

para sempre se lembrarão dele.

7 Não temerá más notícias;

seu coração está firme, confiante no SENHOR.

8 O seu coração está seguro e nada temerá.

No final, verá a derrota dos seus adversários.

9 Reparte generosamente com os pobres;

a sua justiça dura para sempre;

seu poderc será exaltado em honra.

10 O ímpio o vê e fica irado,

range os dentes e definha.

O desejo dos ímpios se frustrará.

Abraços pra ti, caro amigo.

Henderson disse...

Parabéns mano...

Humberto R. de Oliveira Jr disse...

Isso aí , véi! Manda vê!

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