15.10.07

Mais sobre o bicentenário

“Quem quizer comprar huma morada de cazas... fale com Anna Joaquinna da Silva”.
texto do primeiro anúncio publicado no Brasil (17.9.1808)

Tenho participado de conversas e reuniões sobre a próxima comemoração – no ano que vem – do bicentenário da propaganda no Brasil. Algumas pessoas observam que - antes de chegarem D. João VI e sua corte, em 1808, trazendo, nas bagagens, as máquinas e os equipamentos da Imprensa Régia – por aqui já se vendiam coisas e, por extensão, já se deveria fazer uso da comunicação persuasiva.

Indiscutivelmente, isso é verdade. Roberto Simões, em seu livro A Propaganda no Brasil – Evolução histórica (Ed. Referência, 2006), opina que é válida a suposição de que as primeiras manifestações publicitárias tenham ocorrido através de um processo oral, sendo os pregões dos vendedores ambulantes “cantados ou gritados, os instrumentos iniciais que serviram para apregoar mercadorias”.

Simões está bem acompanhado: no seu livro-texto básico nas universidades americanas (Advertising, principles & practices – Prentice Hall, 1998), Wells, Burnett e Moriarty registram que, nos tempos antigos – da Babilônia, Egito e Grécia – o analfabetismo generalizado faz supor que fossem assim apregoadas as qualidades desses arcaicos produtos e serviços aos seus compradores potenciais. Mas especulam que são quase contemporâneas dos pregões as manifestações gráficas: inscrições em argila, desenhos nas paredes ou mesmo mensagens impressas nos papiros, precursores do papel.

Lembro-me de ter levado aos meus alunos de Elementos de Propaganda, na antiga ESPM da rua 7 de abril, a foto de um desenho de cidadão consumindo o que se adivinhava que fosse cerveja, encontrado nas ruinas de Dilmun, Mesopotâmia, uns bons 5 mil anos atrás.

Simões escreve que, no Brasil, é apenas possível supor – através do estudo de relatos e documentos de viajantes – a existência de avisos escritos nas paredes das casas, além de, possivelmente, desenhos - com finalidade mais informativa do que persuasiva – a partir do século 17. Mas nada existe que tenha sobrevivido, sob qualquer forma, até os nossos museus.

No ano de 1441 ocorre a invenção da prensa de tipos móveis, por Gutenberg (talvez o alemão mais famoso da história) e a possibilidade de que a propaganda adquira uma das suas principais características: a de comunicação de massa.

Pela mesma fonte mencionada acima, em 1472, aparece o primeiro anúncio impresso – do qual os ingleses reivindicam a primazia: um cartazete afixado nas paredes de igrejas, promovendo livros de orações. Mas só em 1625 surgiu o primeiro anúncio realmente veiculado num jornal (embora os autores não mencionem qual), na Inglaterra e, em 1690, nos Estados Unidos. Mas, durante todo o século 18, os anúncios classificados eram imagens familiares aos leitores de jornais na Europa e mesmo nas Américas.

O aparecimento – tanto da imprensa como da propaganda, no Brasil – apenas no início do século 19 faz de nós iniciantes tardios. As causas são bem conhecidas e delas certamente ouviremos falar bastante, no ano que vem.

J. Roberto Whitaker Penteado, no jornal Propaganda & Marketing.

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