O amor de duas criaturas humanas
talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta,
a maior e última prova,
a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação.
Por isso, pessoas jovens que ainda são estreantes em tudo,
não sabem amar: tem que aprendê-lo.
Com todo o seu ser,
com todas as suas forças concentradas em seu coração solitário,
medroso e palpitante,
devem aprender a amar.
Mas a aprendizagem é sempre uma longa clausura.
Assim, para quem ama,
o amor, por muito tempo e pela vida afora,
é solidão, isolamento cada vez mais intenso e profundo.
O amor, antes de tudo,
não é o que se chama entregar-se,
confundir-se, unir-se a outra pessoa.
Que sentido teria, com efeito,
a união com algo não esclarecido, inacabado, dependente?
O amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer,
tornar-se algo em si mesmo, tornar-se um mundo para si,
por causa de um outro ser;
é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz,
uma escolha e um chamado para longe.
Do amor que lhes é dado,
os jovens deveriam servir-se unicamente
como de um convite para trabalhar em si mesmos.
A fusão com outro, a entrega de si,
toda a espécie de comunhão não são para eles;
são algo de acabado para o qual,
talvez, mal chegue atualmente a vida humana.
Creio que aquele amor persiste
tão forte e poderoso em sua memória
justamente por ter sido sua primeira solidão profunda
e o primeiro trabalho interior com que moldou a sua vida.
Rainer Maria Rilke, em “Cartas a um Jovem Poeta”.
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