As metáforas do livro do Gênesis nos ajudam a compreender o propósito de Deus para o trabalho. São sete expressões: plantar e cuidar; dar nome; dominar sobre; jardim; terra amaldiçoada; espinhos e cardos; suor do rosto.
As três primeiras expressões, a saber, cultivar e cuidar, dar nome e dominar sobre apontam para a responsabilidade do ser humano no universo criado, e podem ser resumidas na compreensão de que Deus deu ao ser humano a responsabilidade de administrar sua criação. Cultivar e cuidar [do jardim] indica a necessidade de explorar as fontes naturais de maneira produtiva e sustentável, gerando riquezas e provendo recursos para o bem estar coletivo. Cultivar e cuidar determina um extrativismo não predatório e em benefício de todos, o que o Frei Leonardo Boff chama de “eco-solidariedade”.
Dar nome [aos animais] significa classificar, organizar e determinar o destino de cada espécie. Dar nome, na cultura bíblica hebraica, implica apontar um destino, escrever uma biografia de antemão ou registrar a natureza do recém nascido. Dar nome é definir um desígnio, um design. O universo não pode, nem deve, seguir um curso aleatório, sem a interferência humana. Dar nome significa moldar, dar sentido, dar significado, identificar propósitos e canalizar as forças da natureza de modo ordenado, harmônico e pacífico para o bem estar comum.
A expressão dominar sobre pode ser interpretada mais facilmente. Implica hierarquia, governo, administração e, acima de tudo, controle. Dominar sobre significa que o ser humano é convidado pelo Criador a se utilizar da criação, impondo sobre ela seus valores, suas prioridades e conveniências justas.
A boa administração do universo ou, se preferir, dos recursos naturais, portanto, pode ser adjetivada com três expressões complementares: produção, desígnio e controle. Em outras palavras, o ser humano, em sua função de administrador da criação, deve “produzir riquezas sem gerar escassez”, moldar o universo natural em benefício coletivo e agir para que esta riqueza seja distribuída de maneira equânime.
O suor do rosto é uma metáfora para a angústia, o stress e a fadiga de trabalhar numa terra amaldiçoada, que, diferentemente do jardim, não produz flores e frutos, mas espinhos e ervas daninhas. O significado destas expressões nos ensina que um ambiente caótico consome energias e mina as possibilidades de realização pessoal como resultado do trabalho. No jardim, o ser humano despende menos energia para colher o fruto do seu trabalho. Na terra amaldiçoada, lidando com espinhos e ervas daninhas, o dispêndio de energia é muito maior e o resultado muito menor.
Emoções tóxicas. Não resta dúvidas que um ambiente caótico é cheio de emoções tóxicas, e isso faz com que o profissional despenda muito mais energia do que o que seria necessário caso atuasse num “ambiente ético”. Trabalhar em meio ao caos corporativo equivale ao exercício de tornar produtiva uma terra coberta de ervas daninhas. Muito suor e pouco resultado. Trabalhar é cooperar com Deus para colocar ordem no caos: plantar jardins na terra amaldiçoada. Eis a redenção da segunda-feira.
Ed René Kivitz, em editorial no boletim da IBAB.
28.10.07
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário