O lendário empreendedor Henry Ford, que inaugurou a primeira linha de produção de automóveis há mais de 100 anos, não via nenhuma necessidade de dar autonomia a seus empregados. "Por que toda vez que contrato um par de braços um cérebro tem de vir junto?", reclamava.
Muitas décadas depois, o fundador da Sony, Akio Morita, viu-se às voltas com um desafio inverso: "Posso obrigar um operário a chegar à fábrica às 7 horas para trabalhar, mas não posso forçá-lo a ter uma boa idéia", dizia, numa época em que neurônios começaram a se tornar mais importantes do que músculos.
As duas frases sintetizam as transformações radicais vividas pelas empresas no século 20: do modelo fordista de produção massificada para o admirável mundo novo da economia do conhecimento. A administração das empresas, porém, continua numa espécie de idade da pedra.
Em seu novo livro, O Futuro da Administração, o americano Gary Hamel afirma que as práticas de gestão continuam quase exatamente como nos velhos tempos do Ford T, quando a linha de montagem era a maior novidade no horizonte.
Professor da London Business School e um dos principais gurus em estratégia e gestão da atualidade, Hamel há algum tempo vem questionando a capacidade da administração clássica de responder aos desafios do novo ambiente de negócios - global, hipercompetitivo e organizado em redes.
O tema desponta em alguns de seus livros anteriores, como Liderando a Revolução e Competindo pelo Futuro (em co-autoria com C.K. Prahalad). Desta vez, porém, o autor radicaliza ao pregar nada menos do que uma revolução completa nos pilares da gestão. A única maneira, acredita ele, de colocar as empresas burocráticas e autoritárias herdadas da era industrial no rumo da inovação - e do futuro.
Hamel lembra que os fundamentos da gestão clássica visavam assegurar controle e eficiência na produção manufatureira - basicamente garantir peões obedientes às ordens vindas de cima, num cenário de relativa estabilidade. Ele insere as tecnologias da administração entre as grandes invenções do século, na medida em que possibilitaram a racionalização máxima do trabalho humano e, por conseqüência, uma otimização exponencial de seus frutos, criando as bases para uma era inédita de prosperidade.
Dito isso, seria hora de virar a página e deixar seus fantasmas descansarem em vez de continuar ditando regras pelos corredores corporativos. Segundo Hamel, competir em um mundo no qual a mudança tornou-se a única certeza exige organizações capazes de se adaptar continuamente à transformação do meio. Empresas em que a inovação não fique confinada aos departamentos de pesquisa e desenvolvimento, mas permeie todas as áreas, tornando-se o eixo da estratégia. Nas quais funcionários sem autonomia e executivos controladores cedam lugar a times engajados em que o trabalho colaborativo prevaleça.
Apoiado em amplo estudo de casos dos últimos dois séculos, Hamel argumenta que é preciso ir além da mera inovação de produtos e serviços, facilmente copiáveis pela concorrência. Ou da introdução de novidades operacionais e de estratégias de negócios diferenciadas. "Comparada a outros tipos de inovação, a da gestão tem um poder inigualável de criar vantagens competitivas mais poderosas e duradouras", afirma ele no livro. (continua)
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