Diz a tarde: "Tenho sede de sombra!"
Diz a lua: "eu, sede de luzeiros".
A fonte cristalina pede lábios
e suspira o vento
Eu tenho sede de aromas e de sorrisos,
sede de cantares novos
sem luas e sem lírios,
e sem amores mortos.
Um cantar de manhã que estremeça
os remansos quietos
do porvir. E encha de esperança
suas ondas e seus lodaçais.
Um cantar luminoso e repousado
cheio de pensamentos,
virginal de tristezas e de angústias
e virginal de sonhos.
Cantar sem carne lírica que encha
de risos o silêncio
(um bando de pombas cegas
lançadas ao mistério).
Cantar que vá à alma das coisas
e à alma dos ventos
e que descanse por fim na alegria
do coração eterno.
Federico Garcia Lorca
4.11.07
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